sábado, 21 de maio de 2022


21 DE MAIO DE 2022
FLÁVIO TAVARES

OS SONS

Muito já se publicou sobre o ciclone ou vendaval que não chegou a consumar-se, mas volto ao tema porque vale prevenir-se para evitar o pior. Ademais, os sons que anunciam o horror continuam a ecoar. Até a denominação do ciclone - Yakecan, ou "som do céu", em tupi-guarani - já define o perigo.

O "som do céu" é uma advertência ao desleixo humano. Um poder maior e imensurável nos alerta sobre as mudanças climáticas que nosso estilo de vida alimenta e faz crescer. Sim, pois a sociedade de consumo nos conduz a uma trama sinistra, guiada por falsas ideias de conforto e bem-estar que aceleram as mudanças do clima.

Sabemos que o "efeito estufa" causado pelo acúmulo de monóxido de carbono na atmosfera é a causa exponencial das mudanças climáticas, mas seguimos usando combustíveis fósseis no dia a dia. Destruímos a floresta amazônica em vez de preservá-la e, hoje, ela já polui tanto quanto sequestra CO².

Os automóveis movidos a gasolina ou diesel completam o quadro da tragédia à vista, mas continuamos a ignorar os carros elétricos. Aqui no RS, chegou-se ao absurdo de tentar explorar uma mina de carvão a céu aberto em terras de banhado, junto ao Rio Jacuí, a 14 quilômetros da Capital, e que, em poucos anos, transformaria o Guaíba em pestilento curso d´água. Sacrificaríamos o bem essencial - a água - pela cobiça de poucos.

Somados, esses absurdos são a causa das mudanças climáticas que, como agora, no outono nos impõem frio e vento de inverno intenso.

Por isso, os "sons do céu" são bem-vindos como alerta. Mas basta que todos ponham um tijolinho na mudança dos hábitos de consumo para evitar o desastre anunciado.

Há, também, os perigosos sons que o presidente da República emite, como dias atrás, quando citou 1964, ano do golpe militar que implantou a ditadura.

As repetidas vezes que Bolsonaro insinua um golpe de Estado e fala em "fraude" na próxima eleição presidencial soam como tentativas de nos habituar ao próprio golpe, sem o tomar como aberração em si.

FLÁVIO TAVARES

Nenhum comentário: