sexta-feira, 27 de maio de 2022


26 DE MAIO DE 2022
+ ECONOMIA

Congelamento não é prejuízo à Petrobras, mas a contribuintes

Com a discussão sobre a "banda do barril" - limitação a reajustes dos combustíveis - ganhando força, a coluna ouviu e leu argumentos de que a medida causaria prejuízo à Petrobras. É preciso debater a iniciativa do governo Bolsonaro que tem objetivo eleitoreiro, mas com argumentos honestos. O risco de prejuízo não é. Isso não quer dizer que seja bom congelar combustíveis para não perder votos. O tamanho da conta final é uma incógnita.

A estatal teve R$ 44 bilhões de lucro no primeiro trimestre. De janeiro a março, extraiu 2,8 milhões de barris por dia de óleo equivalente (soma de petróleo e gás). Nesse período, alcançou recorde no pré-sal, com 2,03 milhões de barris de óleo equivalente ao dia.

A companhia não costuma divulgar o custo de extração no pré-sal com muita transparência, mas o mercado estima que o chamado "custo de extração" esteja por volta de US$ 7, para usar um número conservador (há situações em que a cifra baixa a menos de US$ 3). Então a Petrobras quer alinhar esse custo de US$ 7 aos US$ 114,32 da cotação atual do tipo brent? Não, calma lá.

Sobre o custo de extração, há uma cascata de outros valores - de impostos federais e estaduais a questões contábeis, como depreciação - que elevam o custo do barril de petróleo da Petrobras para cerca de US$ 60. Ainda assim, é quase metade do valor de mercado do mesmo volume de óleo tipo brent, usado pela estatal para balizar sua política de reajustes.

O problema é que o mercado de petróleo e gás está nas mãos de Vladimir Putin. A guerra na Ucrânia já completou três meses, não há sinais de que termine tão cedo e as pressões sobre os preços só aumentam, pressionados tanto pelo conflito militar quanto pelas sanções econômicas de parte a parte.

O gás natural atingiu o maior preço em 15 anos, há temores sobre o abastecimento de diesel em todo o mundo. O risco de congelar preços nesse cenário não é de prejuízo à Petrobras, é espetar uma conta de soma imprevisível no bolso de todos os contribuintes brasileiros, mesmo os que não têm orçamento para andar de carro. Sim, isso ocorreu no governo Dilma, o que tornou a Petrobras a petroleira mais endividada do planeta. Mas a ideia era fazer igual?

ENTREVISTA LUIZ ALBERTO MARINHO Sócio-diretor da Gouvêa Malls

Luiz Alberto Marinho é sócio-diretor da Gouvêa Malls, um dos muitos braços da Gouvêa Ecosystem, referência nacional em consultoria de varejo, setor que está em plena transformação. Para ele, falar sobre shoppings é como passear em um desses equipamentos desafiados pelas mudanças no consumo. No Brasil, avalia, o processo será "menos traumático" do que nos Estados Unidos, onde antigos templos de consumo viraram prédios-fantasma. Marinho faz palestra hoje na 9ª Feira Brasileira do Varejo, organizada pelo Sindilojas-RS, a convite da SVB Par, por sua vez responsável pelo Pontal Shopping.

Como a pandemia acelerou transformações que já vinham ocorrendo no varejo?

A integração do digital na vida das pessoas ficou mais natural. Isso fez com que o varejo precise estar sintonizado com a integração do on e do off. Projetou-se que a loja física perderia relevância, mas isso não aconteceu. No ano passado, o saldo entre lojas físicas que abriram e fecharam no Brasil foi positivo em 204 mil. É preciso utilizar ferramentas digitais no ponto certo, para ser relevante sem ser invasivo, mas a integração entre on e off é muito mais complexa do que comprar na internet e buscar na loja física. A loja não perde importância, mas transforma sua função.

Quais são as consequências dessa transformação?

Embute uma perigosa tendência de consolidação e concentração. Um cenário com mais ferramentas digitais exige mais escala, construção de uma base de clientes, análise das compras com integração dos dados. Isso está distante do pequeno e médio varejista. Movimentos de aquisições e fusões formam grandes redes, que passam a ser mais fortes. Mas isso fragiliza os pequenos, extrai capacidade de competição e reduz os lojistas locais e de menor porte.

Qual o futuro dos shoppings nesse cenário, vão ficar fantasmas, como nos Estados Unidos?

Os shoppings vão se tornar outra coisa. Já começou e, aqui, vai ser menos traumático do que nos EUA. Os shoppings americanos dependem muito das lojas de departamentos, que ainda representam 50% da área. Quando se fala em mix aqui, os cinemas entraram ainda nos anos 1980, depois vieram academias de ginástica, centros médicos. Nos EUA, os shoppings cresceram como fenômeno suburbano, houve migração da população das cidades para os subúrbios, com boas escolas, bons clubes e bons shoppings. No Brasil, são um fenômeno urbano. Shopping deixou se ser templo de consumo para virar espaço de passeio.

Qual o peso da concorrência de sites apelidados de "camelódromo virtual"?

Essa é uma bandeira do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo). Se essas empresas não pagam impostos, há uma competição desigual. Essa não é uma discussão exclusiva do Brasil, nos EUA também existe. Isso ocorre com Shopee, Alibaba, Shein e algumas empresas locais. Parece que não teremos MP neste ano de eleição, mas a demanda tem mérito e a pressão deve continuar em qualquer governo.

MARTA SFREDO

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