28 DE MAIO DE 2022
FLÁVIO TAVARES
OS SÍMBOLOS
Há símbolos que vão além do que representam. Mas, quando algum acidente tira deles a essência, cai todo o arcabouço. No Brasil, esse é (ou foi) o caso da Petrobras, símbolo da nossa dinâmica e criatividade.
A Petrobras foi tal qual a bandeira como símbolo pátrio. Já nasceu lutando, numa batalha por nossa independência econômica. "O petróleo é nosso" foi, nos anos 1940-1950, o lema de um combate diuturno que levou à prisão milhares de brasileiros, numa campanha por nossa libertação econômica, mas que o tacanho conservadorismo no poder tachava de "agitação comunista".
A luta por "o petróleo é nosso" só se materializou com a criação da Petrobras em 1953, no governo Vargas. Na época, o petróleo significava a emancipação econômico-social e tomamos a empresa como a alforria do povo e da nação.
A Petrobras tornou-se a maior empresa do país e da América Latina, intocável e autônoma, longe da politicalha partidária. Com isso, chegou à descoberta do pré-sal. Empresa pública sob domínio do governo federal com minoritário capital privado, foi tratada respeitosamente até nos anos da ditadura militar, em que o poder se exercia de cima para baixo, autoritariamente.
A Petrobras se fez símbolo ao ter administrações estáveis que, pela continuidade, planejavam e implantavam ações. Resistiu até à corrupção de Lula nos governos do PT. Agora, Bolsonaro nomeou o quarto presidente da empresa em três anos e meio do atual governo, interrompendo uma gestão que recém se preparava para agir.
O novo presidente da empresa é secretário de Desburocratização e Governo Digital do Ministério de Economia, mas pouco conhece de petróleo. Os especialistas não o vêm apto a "baixar o preço dos combustíveis", como diz o presidente da República. O alto preço atual está atrelado à desvalorização do real frente ao dólar.
No fundo, tudo se deve ao fantasma da inflação, visível no preço dos alimentos e bens essenciais. E isso, por acaso, não é um símbolo do atual desgoverno?
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