terça-feira, 17 de maio de 2022


17 DE MAIO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

NEM APATIA, NEM RADICALIZAÇÃO

Traz preciosas informações e análises a reportagem "Renovação em xeque", com textos de Gabriel Jacobsen e fotos de Jonathan Heckler, publicada no caderno DOC, na superedição de Zero Hora (14-15/5). O trabalho esmiuçou as razões que fizeram o interesse de adolescentes e jovens em política diminuir muito nos últimos anos. O resultado dessa indiferença vinha aparecendo, a cada pleito, na diminuição do alistamento eleitoral do público entre 16 e 17 anos, que tem o direito, mas não a obrigação, de votar. Uma grande mobilização do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com o auxílio de celebridades e influenciadores digitais, teve êxito em quebrar a monotonia neste ano, com dois milhões de novos títulos.

Mas devem ser compreendidos e combatidos os motivos que, em regra, têm levado os jovens a se desinteressarem pela política. O principal deles, que apareceu tanto em entrevistas quanto em pesquisas, é a agressividade do debate nas redes sociais. Ou seja, nem de debate pode ser chamado. Levar o assunto para a arena virtual virou garantia de troca de xingamentos e ataques, em que o respeito à opinião do outro praticamente inexiste. Com o ambiente tóxico, os jovens têm receio de sofrer o que se convencionou chamar, na linguagem da internet, de "cancelamento". O reflexo é a apatia, evitando o tema ou alienando-se, ou a adesão ao clima de radicalização. Nenhum dos dois é desejável, pois não contribui para a formação de um cidadão consciente dos problemas do lugar onde vive - país, Estado ou município -, ou então, apenas agrega mais soldados nos exércitos da intolerância.

Está nítido, no entanto, que adolescentes e jovens têm as pautas que mais os atraem ou preocupam, como educação, meio ambiente e racismo, entre outras. Apenas não têm encontrado espaços adequados para se manifestarem e trocarem ideias. É controverso, sem dúvida, mas é nesse vácuo que as escolas poderiam entrar, observam especialistas entrevistados, permitindo e incentivando discussões plurais, com respeito às visões conflitantes, nas quais deve ser exercitada a crítica, mas sobre os pilares da tolerância às diferentes compreensões de mundo.

São conclusões que deveriam chamar a atenção inclusive de políticos e de partidos. Não será alimentando polarizações estéreis que conseguirão atrair a grande maioria dos jovens eleitores. Da mesma forma, a inexistência de identidade programática na maioria das siglas, o que leva à crise de representatividade, é outro fator a inibir engajamento. Mas o fato de grande parte desses indivíduos rejeitar tomar parte no ringue dos discursos radicais é a principal mensagem. A atual geração que está próxima de entrar na vida adulta ou recém ingressou nela rejeita a discórdia improdutiva. Conclui-se, portanto, que deseja um ambiente político mais harmônico - o que não deixa de ser um sinal de esperança para um futuro apaziguamento do país.

O interesse maior dos jovens pela política não é importante apenas para que aumentem o comparecimento nas urnas e assim ajudem a moldar os próximos anos do país. É preciso que compreendam a importância de valorizar a democracia, conheçam seus direitos e, com maior consciência cidadã, defendam as suas causas. Com esses predicados, estariam inclusive mais aptos a participarem de um movimento de renovação dos quadros dos partidos, idealmente com programas mais sólidos, tornando-se líderes do amanhã. Mais tolerantes, sobretudo. 

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