quarta-feira, 18 de maio de 2022


18 DE MAIO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

A GUERRA E OS ALIMENTOS

Os ministros da área de finanças do G7, grupo dos países mais ricos do mundo, se reúnem entre hoje e sexta-feira em Bonn, na Alemanha, e espera-se que um dos temas centrais seja a análise de um plano para mitigar os riscos de uma crise global de fome. Sabe-se, genericamente, que o planejamento prevê apoio emergencial para ajudar países mais carentes a elevar a produção e a disponibilidade de alimentos. Com a eclosão da guerra no Leste Europeu, o comércio internacional ficou mais restrito e os preços dispararam.

São várias as frentes em que é necessário agir. Uma das principais é encontrar meios para destravar o fluxo não apenas de alimentos, mas de insumos, como fertilizantes, o que afeta o custo de produção e o preço final. A conjuntura atual é altamente desfavorável para os consumidores, e as populações mais carentes, por óbvio, ficam expostas a um sofrimento ainda maior. O Índice de Preços de Alimentos da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) ilustra a situação. Em março, o indicador alcançou 159,3 pontos, uma alta de 12,6% sobre fevereiro e que representou recorde desde a instituição do índice, em 1990. Em abril, o recuo foi de apenas 0,8%, o que mostra uma certa estabilização, mas em um nível altíssimo.

Conforme a Organização Mundial do Comércio (OMC), neste momento são 23 países que estão restringindo a exportação de alimentos, decisões em grande parte relacionadas à busca por evitar escassez interna após a invasão da Ucrânia. O quadro se agravou com a iniciativa recente da Índia de proibir embarques de trigo, após uma onda de calor que atingiu o país nas últimas semanas afetar a sua safra. As cotações internacionais do grão sobem cerca de 60% no ano.

Autoridades apontam que o principal problema, neste momento, não são estoques. O gargalo está na logística. Relevante fornecedora de grãos e óleos, a Ucrânia, por exemplo, diz ter produção para exportar, mas seus principais portos estão destruídos e o escoamento seria possível hoje apenas via ferroviária, para a Europa. A Rússia, por sua vez, também tem restrições na venda de fertilizantes.

Em paralelo ao plano do G7, capitaneado pelos Estados Unidos e instituições como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), o esperado seria um avanço nas negociações diplomáticas para normalizar o trânsito de alimentos e de insumos dos países envolvidos direta ou indiretamente no conflito. Sinais de arrefecimento dos problemas de distribuição poderiam potencialmente levar à retirada de barreiras a exportações.

Além das mortes, dos feridos e da destruição, a guerra espalha mais mazelas ao elevar a insegurança alimentar no mundo. Mesmo divergentes, relatórios de organizações internacionais apontam a existência de centenas de milhões de pessoas no planeta passando fome. É um cenário que, agravando-se, tende a criar mais instabilidade mundial, abalando sociedades e criando novas ondas migratórias. E mesmo onde há oferta e quando a população tem alguma renda, as dificuldades se materializam na escalada dos preços, o que pode ser constatado cotidianamente em qualquer supermercado brasileiro.

OPINIÃO DA RBS

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