16 DE MAIO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
EDUCAÇÃO, DESAFIO COLETIVO
São aflitivos os resultados da primeira edição de 2022 do programa Avaliar é Tri, iniciativa lançada no ano passado pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc) para aferir o grau de aprendizagem de português e matemática dos alunos do segundo ao nono ano do Ensino Fundamental e do primeiro ao terceiro do Médio. O retrato que surgiu após a aplicação das provas atesta que, devido à pandemia, que forçou o fechamento das escolas, o desempenho dos estudantes nas duas matérias, anteriormente já insuficiente no Rio Grande do Sul, piorou.
Os dados do terceiro ano do Ensino Médio, a última etapa da Educação Básica no país, ilustram de forma assustadora a situação. Em matemática, apenas 1% dos alunos apresentaram um desempenho classificado como adequado, enquanto 92% foram considerados com um nível abaixo do básico. Em português, o panorama também é preocupante, embora não tão desastroso. Dos estudantes avaliados, 6% se situaram no patamar adequado e 62%, no nível abaixo do básico. São duas áreas consideradas uma espécie de alicerce para a evolução nas demais habilidades.
Desde o início da crise sanitária, alertava-se para a defasagem no aprendizado, especialmente na rede pública, devido à maior dificuldade dos alunos de ter em casa sinal de internet de qualidade e dispositivos eletrônicos apropriados para as aulas online. Ao menos é, agora, um problema conhecido em mais detalhes e exposto em números que permitem uma visão geral. As avaliações permitem ainda conhecer individualmente a situação de cada criança e jovem na escola. O diagnóstico, portanto, já existe. É um importante ponto de partida. Cabe agora um amplo esforço para que os programas de recuperação dos prejuízos sejam implementados conforme o planejado, para que, nos próximos anos, resultados melhores apareçam. A tarefa não é apenas do Estado, mas de pais, sociedade e comunidade escolar.
Afinal, as perdas que emergem não são apenas de cada indivíduo, mas coletivas.
Como resposta ao quadro, a Seduc ampliou a carga horária de matemática e português. Orientou os docentes sobre como trabalhar os resultados da avaliação, para que os pontos fracos sejam reforçados na sala de aula. Há, ao mesmo tempo, um programa de bolsas para evitar a evasão escolar no Ensino Médio. Existe ainda a promessa de elevar o número de escolas com tempo integral. São iniciativas que vão no sentido correto.
Mas é preciso lembrar que, antes mesmo da pandemia, o Estado já tinha indicadores ruins nas avaliações de aprendizagem. Muito mais do que recuperar tempo perdido, portanto, seria imperiosa uma verdadeira guinada na qualidade da educação para que se acredite ser possível o salto que o Rio Grande do Sul precisa. Será um tema obrigatório durante a campanha eleitoral. Esperam-se propostas robustas e exequíveis dos candidatos ao Piratini.
Durante a trajetória escolar, a aprendizagem funciona como um tijolo colocado sobre outro, construindo-se o conhecimento que será decisivo na fase adulta da vida. Uma boa educação significa cidadania e melhores chances de conseguir uma digna colocação no mercado de trabalho, com remuneração adequada, ou mesmo probabilidades mais altas de empreender com sucesso.
É escandaloso que, enquanto o desemprego segue alto no país, existam milhares de vagas que não são preenchidas por falta de candidatos qualificados. Um ensino de qualidade se traduz em maior produtividade profissional e, quando isso é multiplicado por milhões, o resultado é uma economia mais pujante e com mais oportunidades para todos. O contrário apenas agrava os problemas sociais atuais e freia o desenvolvimento. É por essa razão que, como dito acima, esse é um desafio não apenas individual, mas missão de toda a sociedade.
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