02 DE ABRIL DE 2022
FLÁVIO TAVARES
A RENÚNCIA
A renúncia do governador Eduardo Leite é insólita e inexplicável. Afinal, ele não detalhou por que deixa o governo e abandona as responsabilidades que lhe deu o povo.
Renunciar a algo pode ser gesto altruísta. Assim ocorreu ao longo dos séculos com santos e sábios, que renunciaram às facilidades do mundo para dedicar-se ao próximo. Com isso, passaram do menor ao maior, tal qual servos da humanidade toda.
Renunciar é altruísta quando se desprezam as honrarias, sejam quais forem. Em qualquer caso, porém, é sempre um gesto pessoal. No Brasil de 1961, a renúncia de Jânio Quadros, antes de completar sete meses de governo, gerou uma crise que quase nos levou à guerra civil. Só décadas mais tarde, ele confessou ao neto que a renúncia fora uma manobra para tentar obter "plenos poderes" e tornar-se "ditador constitucional".
Não é este o caso da renúncia de Eduardo Leite. Pelo contrário, ao renunciar, ele passa de general a soldado raso, para seguir como aspirante a candidato presidencial na eventual desistência de João Doria.
Mas a renúncia é insólita, porque Leite não era proprietário do cargo, só exercia um mandato que lhe deu o povo, o único que, nas democracias, tem poder soberano. Cada eleitor tinha um quinhão naquilo que, mesmo inadequadamente, chamamos de "propriedade do cargo".
Até quem nele não votou também era mandatário, pois se governa para todos. As diferenças são apenas no processo eleitoral. Empossados, os eleitos servem a todos.
Assim, pergunto-me se a renúncia não soa como desprezo ao mandato conferido pelo povo.
Pergunto-me também quais as orientações que nos dão as tais "pesquisas" sobre a eleição presidencial feitas por telefone em rápidas consultas a 2 mil pessoas, como se fossem a tendência de milhões de eleitores.
Não serão um embuste que induz a votar em X ou Y, sem explicar o que são ou propõem? Calam-se sobre planos de governo ou o passado de cada um. Tudo se reduz a números ocos, que não ajudam a decidir sobre o voto.
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