22 DE ABRIL DE 2022
EDUARDO BUENO
A luz de Seu Aurora
Nunca terceirizei esse espaço durante os pares de anos em que ando por aqui. Chegou a hora de fazê-lo. Não só porque o texto a seguir foi redigido por meu irmão, Fernando Bueno, mas também porque ele faz as vezes de convite, alerta, convocação e última chamada para que você aproveite esse feriado fajuto e o final de semana que se segue para visitar - e deixar-se encantar com - a fabulosa exposição de um ucraniano que escapou da invasão russa, refugiou-se em Porto Alegre e virou um dos maiores fotógrafos da cidade. História atualíssima que se deu em... 1922.
Sim, Sioma Breitman fugiu dos pogrons russos na Ucrânia - e para nós, gaúchos, sua desdita foi uma bênção. Leia o texto de Fernando, vá à exposição (com curadoria dele e de Andrea Pires, produção da Prana e em cartaz só até domingo, no Farol Santander) e você verá, com os olhos da cara e da alma, o porquê:
"Sioma Breitman foi um grande homem. Tinha quase 1m90cm de altura. Sioma era ucraniano, judeu e imigrante. Sioma foi desenhista, retocador, escritor, cineasta, pintor e professor. E fotógrafo, óbvio.
Sioma foi grande, um dos maiores, senão o maior fotógrafo que já viveu no Rio Grande do Sul, Estado que adotou como seu. Percorreu a terra gaúcha em lombo de burro, de trem e de carro. Abriu estúdios no Interior e na Capital, sempre à procura da melhor luz para suas fotos.
Até que se tornou o Seu Aurora.
Nada mais apropriado, pois sua fotografia é pura, inconfundível, tal como os primeiros raios de sol da manhã. Sua obra tem várias vertentes e é especial em todas elas. Sioma foi surrealista, modernista, às vezes renascentista, noutras construtivista.
Sioma foi Yousuf Karsh, foi Man Ray. Sioma foi Robert, às vezes Frank, outras Capa. Sioma incorporou Pierre Verger. Sioma encarnou Dorothea Lange e fez até selfies de Rollei, como Vivian Maier.
Sioma foi amigo, sócio e trabalhou com os grandes Olavo Dutra, Pedro Flores e Léo Guerreiro. Foi fotoclubista, participou e foi premiado em mais de 400 salões no Brasil e no Exterior. Foi classista, lutou pelos direitos dos fotógrafos, fundou escolas e associações ligadas à fotografia. Organizou dezenas de exposições, levando a imagem do Rio Grande mundo afora.
Sioma é Sioma. Único, como a luz da aurora.
Gostaria de tê-lo encontrado mais, de ter conversado mais com ele: foram só duas vezes. Mas, depois de dois anos mergulhado na sua obra, de conhecer sua família através de sua fotografia, de ter viajado com ele pelo mundo, posso afirmar, sem sombra de dúvida: Sioma é grande, Sioma é monumental, tanto que virou fototeca, transformou-se em rua e hoje é prêmio.
Kol Hakavod, Sioma. Viva a Fotografia!"
Assino embaixo. E lembro que os curadores aguardam parceria para expor os amplos painéis da mostra em algum outro espaço de Porto Alegre. Antes que virem luz.
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