30 DE ABRIL DE 2022
OPINIÃO DA RBS
RENDA INSUFICIENTE
Ter algum trabalho é sempre melhor do que não conseguir colocação. Sob o ponto de vista dos números de ocupação, não resta dúvida de que o Brasil atravessa um momento de recuperação, mesmo que lenta. É algo a ser reconhecido e celebrado, pois significa que mais pessoas estão conseguindo renda, meio essencial de uma sobrevivência minimamente digna. Os dados mais recentes comprovam.
Em março, conforme o Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados (Caged), foram criados no país 136.189 vagas com carteira assinada. No primeiro trimestre, o resultado líquido entre admissões e demissões foi positivo em 615.173. Divulgada na sexta-feira, a taxa de desemprego, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou em 11,1% no trimestre encerrado em março, estável em relação ao período de três meses imediatamente anterior, encerrado em dezembro. A expectativa do mercado era de 11,4%. Ou seja, o número veio melhor do que o esperado.
Mas a renda ainda é motivo de grande preocupação. Mesmo existindo mais cidadãos trabalhando, em postos formais ou na ocupação informal, os ganhos são menores. É um contexto agravado pela escalada do custo de vida. O IPCA-15, prévia da inflação oficial do país, subiu 1,73% na passagem de março para abril. Em 12 meses, o indicador avança 12,03%, e um olhar mais atento mostra um espalhamento maior da pressão entre os itens que o compõem. Pelo Caged, o salário inicial dos trabalhadores contratados em março foi 7% inferior ao mesmo mês de 2021. No levantamento do IBGE, o rendimento real habitual caiu 8,7% ante o primeiro trimestre do ano passado.
Isso determina que mesmo felizardos colocados no mercado de trabalho enfrentam dificuldades cada vez maiores para manter as compras e as contas básicas do mês. A conjuntura piora pela alta do juro, que contribui para elevar a inadimplência. De acordo com a Serasa Experian, o Brasil chegou, em março, a 65,6 milhões de pessoas que não conseguiam honrar suas dívidas em dia, maior patamar desde o início da pandemia. Quem tem de onde tirar usa suas economias para fazer frente aos compromissos mais urgentes.
Também em março, o Banco Central registrou o maior volume líquido de saques da poupança para o mês desde o começo da série histórica, iniciada em 1995. Para especialistas, reflexo exatamente desse quadro de renda em queda e inflação em alta. As circunstâncias forçam a população à busca por alternativas para reduzir gastos. Recente reportagem de Zero Hora mostrou grande aumento de venda de motocicletas no Rio Grande do Sul, resultado em grande parte atribuído ao esforço para diminuir os desembolsos com gasolina, uma vez que automóveis consomem mais combustível.
O consenso de mercado é de que o Brasil terá um crescimento pífio do PIB em 2022 e a geração de empregos tende a desacelerar nos próximos meses. Uma conjuntura mais favorável para os trabalhadores depende de uma série de fatores encadeados. Entre eles, um combate mais efetivo da inflação. Infelizmente é uma tarefa, hoje, solitária do Banco Central, via remédio amargo do juro, enquanto, por outro lado, teme-se uma bomba fiscal para 2023, devido a gastos e bondades de cunho eleitoreiro. Em um segundo momento, dependeria de uma economia mais aquecida, que no médio prazo poderia vir do aumento da confiança pelo fim das turbulências institucionais, e depois, por reformas estruturantes. Olhando ainda mais para a frente, elevar os ganhos dos brasileiros de maneira consistente depende de uma guinada na educação, capaz de melhorar a produtividade do trabalho.
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