19 DE ABRIL DE 2022
DAVID COIMBRA
O dia em que a Terra quase acabou
Li uma notícia sobre dinossauros que achei importante. Aliás, você sabia que o "descobridor", digamos assim, dos dinossauros comeu o coração de um rei? Foi.
O nome dele é William Buckland, um inglês. Buckland era paleontólogo, geólogo, teólogo e exótico. Ficou mais conhecido por ser paleontólogo e geólogo, porque realizou uma façanha. É que, naquela época, ninguém sabia da existência dos dinossauros. Os ossos deles que os cientistas encontravam eram qualificados como sendo de elefantes ou supostos monstros pré-históricos. Buckland foi o primeiro a descrever um dinossauro. Chamou o seu espécime de "megalossauro", ou, lagarto gigante, que, ao fim e ao cabo, é o que eram os dinos.
Como teólogo, Buckland tentou adaptar a Bíblia à ciência. O livro do Gênesis indica que a Terra tem 6 mil anos. Como Buckland sabia que nosso velho mundo é muito mais velho, elaborou lá uma tese alegando que Deus trabalhou em duas etapas, na criação. Não colou muito.
Buckland fazia ciência até com o próprio estômago. Dizia que um animal deveria ser descrito também pelo seu gosto. Neste afã, provava bichos estranhos para descobrir que sabor tinham - sua preferência eram ratos cozidos, servidos com torradas.
Bem. Certa feita, ele visitou o arcebispo de York, e o anfitrião, num ato temerário, decidiu mostrar-lhe suas relíquias. Entre elas, estava um pequeno cofre de prata em que o arcebispo guardava o presuntivo coração de Luís XIV, o Rei Sol, que teria sido roubado durante a Revolução Francesa. Seco e encolhido, o coração jazia do tamanho de uma noz. Buckland olhou aquilo e exclamou:
- Nunca comi o coração de um rei!
E, antes que o arcebispo pudesse protestar, abocanhou o órgão, mastigou-o e o engoliu como se fosse um naco de picanha. Tudo pela ciência!
Ainda no campo da ciência, retomo a notícia que li acerca dos dinossauros: é que os cientistas anunciaram que estão perto de descobrir a data exata da extinção deles. Foram analisados diversos fósseis da época e logo será revelado o dia em que aquele meteoro imenso caiu na Terra, abrindo uma cratera de 140 quilômetros de extensão no México.
Até então, os cientistas sabiam que o evento ocorreu há cerca de 65 milhões de anos, mas agora eles dirão o dia. Tipo: foi em 3 de abril de 65.789.088 a.C. É extraordinário, porque a queda do meteoro acabou com três quartos das espécies do planeta. Quer dizer: é o dia mais importante da história da Terra. Teremos que instituir um feriado mundial nessa data, com festas em toda parte, gente vestida de dinossauro pelas ruas, outras de meteoro etc. Será "O dia em que a Terra quase acabou". Festejaremos uma tragédia, verdade, mas é uma tragédia natural. Muito mais inteligente do que comemorar tragédias causadas por seres humanos, como golpes de Estado, ditaduras e afins.
Texto originalmente publicado em 3 de abril de 2019 - DAVID COIMBRA
Nenhum comentário:
Postar um comentário