23 DE ABRIL DE 2022
FRANCISCO MARSHALL
DE NOVO? E AINDA CAIS?
Para a cidade de Porto Alegre, não há desafio democrático maior do que o dramatizado no Cais do Porto, desde que se avançou na gestão de seu processo de revitalização. Queremos uma cidade mais bela, feliz e promissora? Acreditamos que a democracia é o melhor caminho para o desenvolvimento? Caso positivo, temos de examinar de frente os horrores dessa história que tensiona o teatro da cidade.
Breve histórico: 1) a empresa habilitada em 2010 para revitalizar o cais, Consórcio Cais Mauá, negligenciou sua meta e cometeu muitos delitos, incluindo-se a deterioração do patrimônio tombado, enganando a cidade por longo tempo; 2) vários movimentos da sociedade civil organizada denunciaram esses delitos desde cedo, mas foram hostilizados por aquela parte da imprensa que tem horror por investigação e democracia, e prefere desinformar; o Judiciário tampouco correspondeu ao esperado, especialmente o TCE, incapaz de zelar pelo interesse público;
3) Sartori não teve coragem, mas Leite, diante do grave quadro de evidências, rescindiu o contrato com o delituoso consórcio, em 30 de maio de 2019. 4) Após a rescisão, diversos grupos técnicos, acadêmicos e culturais da cidade procuraram o governo do Estado para contribuir no novo capítulo desse projeto. O governo Leite desdenhou-os ofensivamente - nem sequer respondeu a pedidos de audiência protocolados por mais de 60 instituições. Preferiu contratar por soma milionária tecnocratas do BNDES, do Rio, totalmente desinformados da cidade e do assunto, para garantir prioritariamente sua meta ideológica, a privatização da área pública.
5) Paralelamente, persistiu, anuída pelo governo, à ocupação ilegal do cais pelo projeto Embarcadero. Ninguém é contra tomar chope na Orla, o que é muito agradável e sucesso empresarial garantido. Não houve, porém, disputa pública pela área, nem apresentação de projeto, nem há compromisso com o patrimônio (pelo contrário), mas apenas uma gambiarra jurídica e política de oitava categoria. Entre os resultados, há no cais lojas de badulaques sem qualquer função relacionada ao contexto e segue o abandono e a deterioração dos armazéns tombados. Faltam, igualmente, paisagismo decente e integração social com interesse público amplo.
6) O grupo contratado por Leite e pelo BNDES segue indiferente ao que pensa e manifesta a cidade e não comparece nem mesmo a audiências públicas promovida pela Assembleia Legislativa, como a que houve dia 12/4 p.p.; o nome disso é alienação e covardia, e sabemos o que querem evitar: o debate público rigoroso de uma proposta interesseira, inconsistente e cafona, ofensiva para a cidade.
Há pessoas e instituições propondo, com ideias, uma excelente revitalização para o cais; são desdenhados por governantes, tecnocratas e especuladores (os filisteus de sempre), indiferentes ao que deseja e pode ser esta cidade. Guiam-se apenas por obsessão ideológica liberal e por ideias tacanhas para apequenar o que pode ser maravilhoso: um novo cais para a cidade.
Dia 28/4, todos na Audiência Pública, para que essa farsa não prossiga, pois precisamos zarpar para destinos melhores.
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