
Dupla desprestigiada no prato
Base da alimentação no país, a dupla arroz e feijão anda em baixa no prato dos brasileiros. Mas, pelo valor nutritivo e questões de saúde, precisa voltar a ser valorizada. O alerta é do agrônomo Carlos Magri Ferreira, especialista em desenvolvimento sustentável vinculado à Embrapa Arroz e Feijão, um dos autores de uma ampla publicação apresentada no final do ano passado sobre questões como segurança alimentar e aspectos da tradição da "dobradinha".
No final da década de 1950, o consumo per capito de arroz e de feijão no Brasil era de 50 quilos e 25 quilos anuais, respectivamente. Hoje, seria em torno de 34 quilos e 15 quilos. Segundo Ferreira, é importante evitar que os números caiam ainda mais. Para isso, diz ele, seriam necessárias campanhas de esclarecimentos sobre os benefícios do cereal e da leguminosa e políticas para que fossem mais presentes, por exemplo, na alimentação disponibilizada por escolas públicas. Ao mesmo tempo em que nutrem, previnem problemas como obesidade e riscos de hipertensão e diabetes, diz Ferreira.
- A questão é que muitas vezes é o alimento ultraprocessado que está substituindo o básico - diz Ferreira.
Segundo o agrônomo, o consumo de arroz e feijão vem diminuindo no país devido a fatores como o aparecimento de novas opções, a alimentação fora de casa e o hábito de trocar o jantar por um lanche. Conforme o especialista, a pesquisa que buscou entender os motivos para a redução do consumo também detectou desinformação que ligava a ingestão de arroz e feijão a dificuldade em manter a forma física.
Alívio no bolso
A inflação dos alimentos está em alta, mas os preços da dupla estão bem mais em conta. O arroz teve redução de 13,8% nos últimos 12 meses, de acordo com o IPCA, a inflação oficial do país, apurada pelo IBGE. O feijão preto ficou 4,1% mais barato. Em tempos bicudos, um incentivo a mais para o dueto mais presente na refeição dos brasileiros ser mais prestigiado.
Uma surpresa vinda da Rússia
Um dos grandes temores no Brasil com a guerra na Ucrânia foi a possibilidade de paralisação das importações de fertilizantes da Rússia, alvo de sanções do Ocidente. A invasão ocorreu dia 24 de fevereiro e em seguida começaram as represálias econômicas. Março, portanto, foi o primeiro mês cheio do conflito. Mas os dados do portal de estatísticas de comércio exterior do governo federal mostram um resultado aparentemente surpreendente.
Desde o início da série histórica, em 1997, nunca desembarcou tanto adubo russo no país em um mês de março. Foram 685,7 mil toneladas, 13% acima do mesmo período de 2021. No Rio Grande do Sul, a quantidade dobrou. Mesmo assim, o risco de escassez do produto nas lavouras fez os preços dispararem. O volume adquirido pelo Brasil custou US$ 455,6 milhões, valor quase três vezes superior ao desembolsado em março do ano passado. Mas, como as viagens de navios duram semanas, é possível que muitos carregamentos possam ter partido antes das sanções.
O total das compras de fertilizantes no Exterior, incluindo todas as nações fornecedoras, não foi recorde para março. Um sinal de maior procura pelo adubo russo. Ou antecipação. As importações, ao todo, chegaram a 2,7 milhões de toneladas, ante 2,9 milhões de toneladas no mesmo mês de 2021. A Rússia respondeu por um quinto das aquisições. Mas os gastos, claro, foram bem maiores: US$ 1,6 bilhão, mais do que o dobro do contabilizado em igual intervalo do ano passado.
No acumulado do primeiro trimestre, o Brasil comprou menos fertilizantes da Rússia, principal fornecedor do país. Mas aumentou os negócios com China, Canadá, Nigéria e mesmo Belarus, outra nação envolvida no conflito. Mesmo assim, o volume desembarcado nos portos brasileiros foi 8% inferior, enquanto as despesas foram mais de duas vezes superiores. Os negócios costumam aumentar no segundo semestre, com a aproximação da safra de verão.
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