15 DE ABRIL DE 2022
OPINIÃO DA RBS
À ESPERA DE ESTRADAS MELHORES
Um dos reflexos mais nítidos da crise financeira amargada pelo Rio Grande do Sul há décadas é a incapacidade de fazer os investimentos exigidos para ampliar a malha de rodovias estaduais importantes, duplicar trechos com maior movimento ou mesmo manter os pavimentos em boas condições de trafegabilidade. A burocracia típica do serviço público é outro entrave comum para a realização de melhorias, mesmo quando há disponibilidade de recursos. Estradas ruins significam custos logísticos mais altos, tirando competitividade do Rio Grande do Sul, e maiores riscos de acidentes, com perdas de vidas e prejuízos financeiros.
Não há como manter ilusões. A única saída viável para solucionar este gargalo é a concessão de estradas para empresas com capacidade de fazer os aportes necessários, na velocidade indispensável. É verdade que, na primeira experiência dos polos de pedágio, a partir do final da década de 1990, os resultados não foram os esperados pelos gaúchos devido a problemas nos contratos, como o tempo de exploração e a falta de previsão de investimentos relevantes para prestar um melhor serviço. As queixas dos usuários se multiplicaram. Mas erros também são úteis quando há disposição de corrigi-los, para que não se repitam. O Estado chegou ainda a tentar pedágios estatais, que também fracassaram.
No novo modelo de concessões adotado pelo governo gaúcho, que na quarta-feira realizou na B3, em São Paulo, o primeiro dos três leilões destinados a conceder blocos de rodovias, houve um esforço por não reprisar os erros do passado. Porém, o resultado ficou aquém do esperado. O primeiro lote, de 271,54 quilômetros de estradas na Serra e no Vale do Caí, foi arrematado pelo consórcio paranaense Integrasul. Como só havia um concorrente, o deságio foi de apenas 1,3%, e os valores dos pedágios ficaram entre R$ 6,85 e R$ 9,83, provocando reações de entidades de logística e transporte. Ontem, o governo já estava sendo pressionado a rever o projeto. Espera-se que o Estado, poder concedente, faça o quanto antes a análise do resultado e encaminhe, se necessário, ajustes no modelo para os próximos leilões.
A mais recente pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT), publicada no final do ano passado, mostrou que apenas 37% da malha local é considerada ótima ou boa. Mesmo sendo o Rio Grande do Sul um dos Estados mais ricos e desenvolvidos do país, é um patamar abaixo da média nacional (38%), que coloca os gaúchos na constrangedora posição de 17º colocado em relação à qualidade das vias. É um quadro inaceitável, que freia o desenvolvimento e só será revertido com investimentos.
Nos últimos anos, outras estradas - federais e estaduais - foram concedidas, com melhorias em andamento. Com o auxílio de uma boa fiscalização por parte das agências reguladoras, espera-se que o Rio Grande do Sul ingresse o quanto antes em uma nova era de formação de uma infraestrutura rodoviária compatível com a potencialidade gaúcha e que permita aos usuários terem a certeza de estar pagando tarifas justas para trafegar em rodovias modernas e seguras. Como a extensão que o poder público passa a gerir também será menor com as concessões, é possível esperar que exista uma disponibilidade maior de recursos para alocar em trechos e estradas de outras regiões que não são viáveis para concessão, mas onde a população igualmente espera contar com rodovias melhores.
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