sábado, 23 de abril de 2022


23 DE ABRIL DE 2022
DAVID COIMBRA

Por que morrem os grupos de WhatsApp

Tenho vários grupos de WhatsApp mortos dentro do meu celular. Não faz muito, eles eram tão ativos, tão resplandecentes de alegria ou pulsantes de opiniões definitivas, e hoje nem lembrança são, porque ninguém mais fala neles.

De alguns, confesso com envergonhada sinceridade, nem sinto falta. Quando me inscreveram no grupo, pensei: "Quem são essas pessoas?". Aí é que está: na verdade, sou um tímido. Não me comporto com naturalidade diante de estranhos.

Mas houve outros grupos, repletos de bons amigos, que, ao se formarem, exclamei: oh, que bela reunião! Achei que tudo seria perfeito entre nós, mas qual o quê! Coisas foram acontecendo. Coisas sempre acontecem. E os grupos foram desaparecendo devagar e, de repente, sumiram, como o sol atrás do Guaíba no crepúsculo.

Em alguns grupos, as pessoas se sentiam incomodadas pela presença de um determinado integrante. Aí, sabe o que elas fizeram? Criaram outro grupo, igualzinho, só que sem aquela pessoa. Ninguém comenta que aquela pessoa foi excluída, até porque o grupo antigo continua lá, mudo, ninguém saiu, só que ninguém se manifesta mais. É como se aquele cara, o excluído, estivesse em uma festa em que todas as pessoas ficassem sempre de costas para ele. Estremeço só de pensar que isso possa ter acontecido comigo em algum grupo.

Eu, para evitar banimentos, me esforço para ser simpático no WhatsApp. Não emito opiniões polêmicas, mantenho-me distante de zonas de conflito, como a política, o futebol e a cloroquina. Mesmo assim, às vezes ocorre algo desagradável. Tipo: vou lá, escrevo uma mensagem que me pareceu interessantíssima e ninguém comenta. Ninguém! Não mandam nem aquelas irritantes mãozinhas com sinal de positivo. Por quê? Não gostaram do que escrevi? Acham que estou errado? Que é ridículo? Que fui bobo? Estão gozando de mim lá naquele grupo que fizeram sem a minha presença? Malditos! Vou sair desse grupo de esnobes.

Sei que existe um instrumento que mostra quem leu a sua mensagem. Você vai lá e confere: ah, então o Fulano leu o que escrevi e não comentou nada... Esnobe!

Mas não faço isso. Não vou perder tempo com acareações digitais. Se não querem comentar, não comentem. Mil vezes esnobes!

Tenho um amigo que formou um grupo bem restrito, apenas com seu núcleo familiar: ele, a mulher e o filho. Ele passava mensagens que julgava curiosas, frases espirituosas, vídeos engraçados e tudo mais, e a mulher e o filho não comentavam. Ele saiu do grupo, indignado. O que me intriga: um grupo de duas pessoas é, tecnicamente, um grupo?

Já saí de grupos. Hoje, não mais. É antipático. Conheço caras que se agastaram com as opiniões manifestadas em alguns grupos, saíram deles e foram recolocados. E de novo saíram e de novo os colocaram. E saíram mais uma vez, só que aí ninguém os recolocou, e eles ficaram de fora, e todo mundo no grupo fala mal deles. Eu, não. Eu, agora, fico, para que não falem mal de mim. Já basta aquele em que estão todos, menos eu.

Mas o que me intriga é: se não existem opiniões discordantes, se as pessoas se relacionam bem fora da internet, por que um grupo de WhatsApp formado por elas morre? É triste isso.

Sinto saudade de alguns grupos, admito, sobretudo nesse período de confinamento. Eram pessoas legais, por que se dispersaram? Dá uma sensação de abandono, entende? Tenho vontade de reunir essas pessoas fisicamente só para conversar sobre nosso velho grupo. Eram tantas boas tiradas, tantos vídeos hilários... Lembra daquela piadinha que o Beltrano contou? E o Sicrano, que sempre repetia postagens, lembra? Distraído, o Sicrano... O que houve conosco para nos apartarmos? O quê?

Penso, volta e meia, em retomar nosso relacionamento, mas sei que seria em vão, que se trata de uma nostalgia inútil. Não adianta mais tentar reativar o grupo que se foi. O que passou, passou. Vida nova, a fila anda. Mas, se as pessoas do grupo estiverem naquele em que estão todos, menos eu, vai dar problema. Ah, vai dar! Esnobes.

Texto originalmente publicado na edição de 8 e 9 de agosto de 2020 - DAVID COIMBRA

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