12 DE ABRIL DE 2022
NÍLSON SOUZA
Feiquenius
Estou acompanhando com atenção e interesse profissional a tramitação no Congresso Nacional do polêmico PL das Fake News, que leva o nome oficial de Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet. Resultado de extenso debate entre parlamentares, gigantes da tecnologia, empresas tradicionais de mídia e organizações não governamentais, a proposta causa desconforto a todas as partes envolvidas, ainda que seus propósitos sejam louváveis: conter a disseminação de notícias falsas e punir os responsáveis por teorias conspiratórias, discursos de ódio e pregações antidemocráticas.
Tinha lá a sua graça quando Mario Quintana dizia que a mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer. E parecia ainda mais pitoresco quando Millôr Fernandes recomendava a seus leitores jamais dizerem uma mentira que não pudessem provar. Só que a velha e, às vezes, inocente mentira sofisticou-se, ganhou nome inglês e assume dimensões devastadoras com o impulso da internet e das redes sociais. Durante a pandemia, todos pudemos constatar que a boataria disfarçada de verdade não apenas desvirtua a democracia e sustenta maus governantes, mas também provoca sofrimentos e mortes.
Ainda assim, me parece pouco objetivo centrar o combate às fake news apenas nas plataformas utilizadas para a delinquência ou mesmo nos supostos autores das falsidades, que nem sempre são passíveis de identificação e, muitas vezes, sequer o fazem por maldade. Há, certamente, aqueles que mentem por apego ao poder, por ideologia, por ganância e também por simples perversidade, mas muitos também o fazem por ingenuidade, por ignorância e até para se sentirem protagonistas nas suas bolhas de comunicação.
Pois que venha a lei, se os legisladores chegarem a uma definição sensata sobre o texto final. Porém, tão importante quanto punir os emissores talvez seja educar os receptores. As notícias fraudulentas só atingem seus criminosos objetivos porque muita gente acredita nelas e as repassa sem qualquer questionamento. Não há barreira mais eficiente para a calúnia do que uma população majoritariamente formada por pessoas esclarecidas, com capacidade de interpretar corretamente textos escritos, de distinguir informação de opinião, de identificar o que é verdade e o que é mentira. Educação, portanto, é o nome da mágica.
Nenhum comentário:
Postar um comentário