15 DE ABRIL DE 2022
EM CASA
Mulheres comandam o tribunal em "Sentença"
Série com Camila Morgado entra hoje no catálogo do streaming
Um olhar feminino sobre a Justiça nem sempre justa e, principalmente, sobre o ser humano. Criada por Paula Knudsen, dirigida por Anahí Berneri e Marina Meliande e protagonizada por Camila Morgado - além de quatro dos seis nomes que assinam o roteiro serem femininos -, a série Sentença chega hoje ao catálogo do Amazon Prime Video.
O drama tem como guia Heloísa (Morgado), uma advogada criminalista que acredita que todos têm direito a defesa, independentemente do crime cometido. Experiente, ela conhece profundamente a complexidade do cárcere e do sistema prisional brasileiro onde tantos definham, abandonados sem a devida assistência legal. Mas quando um caso choca o país e Heloísa se torna advogada da suposta assassina, ela se vê em meio a uma situação que envolve o líder da maior facção criminosa do Brasil e pessoas misteriosas que o querem morto.
Enquanto percorre essa jornada recheada de perigos, Heloísa precisa ainda lidar com um trauma de infância enterrado em sua memória, que pode revelar um doloroso segredo familiar. Na busca não só pela verdade do que aconteceu no caso de sua nova cliente, mas também pelos mistérios dos crimes de sua própria família, a advogada precisa decidir se cruza ou não a linha tênue entre o que é certo e errado. E é este o principal ponto positivo da atração: ela deixa de lado a visão maniqueísta do heroísmo.
Na trama, que dosa com equilíbrio intensidade e delicadeza, a protagonista, que é uma idealista, apresenta diversas camadas ao se defrontar com diferentes desafios ao longo de sua jornada. Por contar com apenas seis episódios de mais ou menos 45 minutos em sua primeira temporada, a série acaba por acumular temas ao redor de sua protagonista, sem apontar soluções, mas buscando levar à luz temas pertinentes da sociedade brasileira, como racismo, desigualdade social, machismo, abuso infantil, adoção, corrupção, entre vários outros.
Sobrecarregada com a sua jornada de filha, mãe, esposa e profissional que lida diretamente com a crueldade dos sistemas penal e carcerário, Heloísa prima por não deixar que a sua realidade e a daqueles que estão ao seu redor sucumba à barbárie. Para isso, a produção entrega um ponto de vista majoritariamente feminino para um universo que sempre teve os homens como protagonistas, conseguindo inserir sensibilidade ao mostrar um olhar sobre o humano e a vida.
Brasil
Em entrevista a Zero Hora, elenco e equipe de Sentença comentaram como foi fazer a série e de que forma eles enxergam essa produção sobre direitos humanos, comandada por mulheres, chegando no Brasil de 2022. Para Camila Morgado, Heloísa é uma personagem muito bonita justamente por ter consciência do lugar em que mora:
- Ela sabe que de cada 10 presos, sete são negros, que o tráfico de drogas talvez seja o crime que mais prende no país, dos presos provisórios, que não foram julgados ainda. Ela sabe como é falho o sistema. Mas tem uma coisa que eu acho muito interessante nela: é que ela é vítima da própria história, do próprio passado, que torna ela um ser humano mais acolhedor, mais frágil no sentido de reconhecer as qualidades humanas no coletivo.
Já a atriz Lena Roque, a Dinorah na trama, mulher negra e periférica que é acusada de cometer um crime hediondo, afirma que ela tem em seu trabalho a sua militância e é com as suas personagens que busca dar voz às questões que acredita ser importantes pontos de discussão.
- A violência institucionalizada no Brasil e a forma como a política é conduzida deixa muita margem para que a gente questione de tudo. Inclusive, a questão da população negra, da população periférica, de ela ser culpabilizada antes de qualquer coisa. Isso não acontece em todas as classes sociais. Conforme a pirâmide vai aumentando, isso não acontece. Na base da pirâmide está a população negra, as mulheres negras.
CARLOS REDEL
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