03 DE JANEIRO DE 2022
HUMBERTO TREZZI
Percalços de um sonho hippie
Quando eu era jovem e tinha cabelos nos ombros, uma canção com o poético nome de Aquarius sintetizou os sonhos da geração que me antecedeu. As estrofes começavam assim: "Quando a Lua estiver na Sétima Casa/ E Júpiter alinhado com Marte/ Então a Paz guiará os planetas/ E o Amor comandará as estrelas/ Este é o amanhecer da Era de Aquário/ Aquário!/Aquário!"
Pois estamos na Era de Aquário, dizem astrólogos. Não sou chegado em astrologia, mas bem que eu gostaria. Paz e amor seriam ótimas premissas para o milênio. Só que não combinam com pandemia e eleições, especialmente no Brasil.
E em 2022 teremos esses dois fenômenos juntos. A pandemia, que estava definhando, ganhou fôlego outra vez na Europa, nos EUA e na África, por meio da variante Ômicron (onde os cientistas se inspiram para batizar esses nomes, hein?). As máscaras, que tinham caído (não a dos políticos, mas as dos cidadãos comuns), voltaram a ser obrigatórias em Londres e Nova York. No Brasil nem chegarão a ser deixadas de lado, podem apostar. Por uma questão de saúde pública, lógico. E, após uma primavera de reencontros emocionados, lágrimas, anistia na guerra ideológica entre parentes e amigos, tudo indica que atravessaremos 2022 mais uma vez mascarados e (Deus queira que não!) apartados.
Para piorar um pouquinho, é ano eleitoral e, no Brasil recente, isso significa lares rachados por ódio político. Bolsonaristas querem manter o Mito onde está, petistas sonham em recuperar o poder perdido por Lula (e restaurar sua imagem arranhada pela prisão), a chamada terceira via tem uns oito candidatos e tenta fazer sete desistirem para poder chamar um deles de seu...
Por vezes, como o David Coimbra (titular desta coluna), almejo um pouco de tédio na política. Estabilidade. Algo sem grandes projetos e sem grandes rupturas. Apenas podermos tocar nossas vidas com um governante que nos traga algumas realizações sociais. Que não discuta com qualquer um na esquina, nem assalte os cofres públicos impunemente (pelo menos passe vergonha por isso). Que viabilize um pouco mais de justiça e cause nenhum sobressalto.
Eu nem precisaria viver o sonho hippie, a Era de Aquarius cantada em prosa e verso. Bastaria recuperar um pouco a capacidade de acreditar numa humanidade mais harmônica e menos belicosa. E, claro, se me for dada escolha, gostaria também de ter menos rugas e meus longos cabelos de volta. É pedir demais? Se não for em 2022, que seja logo.
David Coimbra está em férias - HUMBERTO TREZZI
Nenhum comentário:
Postar um comentário