02 DE NOVEMBRO DE 2021
DAVID COIMBRA
A briga mais original do mundo
Depois do jogo entre Grêmio e Palmeiras, deu-se toda aquela confusão que se viu. Torcedores do Grêmio invadiram o campo, quebraram a sala do VAR, confrontaram a Brigada Militar... o tumulto de praxe. Mas lá em cima, nas arquibancadas, um grupo de gremistas e outro de palmeirenses se empenharam numa das brigas mais originais a que já assisti.
Eles estavam separados por uma alta parede de vidro, tão sólida que não conseguiam transpô-la. Só que isso não impediu que lutassem com denodo. Ambos os grupos desceram até o final da parede, os palmeirenses no lado esquerdo e os gremistas no lado direito. Como o espaço era reduzido, um campeão de cada grupo foi escolhido para o duelo. Então, o gremista enviava um soco em curva, contornando a parede com o braço direito, tentando atingir o palmeirense do outro lado. O palmeirense se esquivava, mas não recuava, porque, em seguida, era a vez dele. Assim, ele arremessava o punho esquerdo pelo lado da parede, tentando acertar o gremista.
Ficaram algum tempo envolvidos nessa espetacular briga sem contato físico. Para respeitarem completamente os protocolos da covid, faltou apenas que os dois estivessem de máscara. Não estavam. Lamentável.
Há um poder dominando o Grêmio
Há uma melancólica sintonia de alma entre o time e a torcida do Grêmio. Ambos estão com os nervos despedaçados. O Grêmio tem até jogado bem, mas, se leva um gol, se desmancha. Falta-lhe a autoconfiança indispensável para tentar a reação.
Neste momento, não adianta procurar culpados; é preciso procurar, tão somente, soluções. O que fazer para devolver aos jogadores a certeza de que eles podem vencer?
Contratar psicólogos?
Palestrantes motivacionais?
Padres e pastores?
Não sei. Mas sei que é aí que a direção do Grêmio tem de trabalhar: na cabeça dos jogadores.
É interessante isso. É até bonito de observar esse poder do nosso cérebro. Ele muitas vezes nos sabota, inventa perigos, nos enche de medos. Nós sabemos que aquele temor é irreal, mas não conseguimos refreá-lo. É como a paixão. O homem apaixonado é um doente, ele está fora de si e da realidade. Não adianta falar, não adianta aconselhá-lo. Ele não ouvirá. Ele não quer ouvir. No entanto, depois, quando a paixão finalmente se esvair, ele ficará surpreso consigo mesmo: como pude fazer tantas bobagens por essa mulher?
Nenhum de nós está a salvo do seu próprio cérebro. As camadas inferiores da nossa inteligência e do nosso espírito vez em quando assomam, dominam as superiores, e nos fazem mal. É o que está acontecendo com o Grêmio. Numa situação de pânico, o subconsciente o controlou. Fugir desse jugo nefasto significa fugir da segunda divisão.
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