
13 DE JULHO DE 2021
RECORTES DE VIAGEM
Roteiros bordados da Amazônia
Viajar. Viajar e fotografar. Viajar, fotografar e bordar.
Esse é o processo de Mylene Rizzo para criar as fotos de viagens bordadas que ela expõe pela segunda vez a partir de 10 de agosto. Na primeira mostra, acrescentou seu toque colorido a imagens da Índia, o último roteiro antes da pandemia. Agora, é a Amazônia, visitada duas vezes, uma delas em novembro do ano passado, que ganha ressignificação. E por isso o nome da exposição: Terra Brasilis.
Árvores, água, animais e pessoas transportados em preto e branco para o tecido ganham flores, folhas e formas geométricas coloridas. E transformam-se em histórias como a da indígena Yara Dessana, que ela havia fotografado três anos atrás. Em novembro, sem saber o nome da adolescente nem a tribo a que pertencia, Mylene levou a imagem já bordada para tentar localizá-la. Com ajuda de um guia local, percorreu em um barquinho três das tribos das margens do Rio Negro até encontrar Yara. Com a menina e seu pai, combinaram de fazer um sorteio da obra entre o grupo de turistas que Mylene e sua companheira do Viajando com Arte, Clarisse Linhares, acompanhavam. A ideia era reverter o valor para a tribo, em dificuldades com a crise da covid-19. Dito e feito.
Psicóloga, historiadora, fotógrafa, viajante com mais de 60 países visitados, Mylene, 53 anos, percorreu muito mundo antes de ir à Amazônia. Impressionou-se com o que seus olhos enxergaram. Só que as lentes da câmera, diz ela, não conseguem captar a grandiosidade:
- A foto não dá a dimensão das coisas e de seu simbolismo.
Outro impacto veio da constatação de que os povos indígenas não recebem o interesse e o valor que deveriam dos brasileiros em geral. Quem visita a região, mesmo turistando, muda sua percepção, volta diferente, garante ela. Paisagem e povo, então, dão o tom de Terra Brasilis.
Ainda que tenha tido contato com trabalhos manuais na adolescência, por meio da mãe, Vânia, e da avó materna, Emy, Mylene é uma neófita nesse mundo. Sim, foi a pandemia que fez com que finalmente encontrasse a arte que sempre buscou depois de, em crise de abstinência das viagens, ter devorado 13 livros nos primeiros 45 dias de confinamento. E meteu-se a bordar. Da avó paterna, Gladys, uma jardineira nata, veio a influência dos motivos de flores e plantas.
- É uma história de mulheres - resume.
Desde a primeira foto bordada em 2020 - uma imagem captada no Marrocos, de um homem caminhando sobre tapetes - já são cerca de 50 obras. Em Terra Brasilis, há 17 delas, no tamanho 30x40, algumas em acrílico, outras emolduradas. Há tramas com lã ou com fio de algodão. Há ponto atrás e nó francês e muita intuição, sem desenhar nada antes, apenas escolhendo de antemão as cores. Da concepção ao catálogo, Mylene faz tudo, às vezes com uma ou outra sugestão da filha Victória Rizzo, arquiteta de 30 anos. E já vai matutando outros projetos, relacionados a seus destinos: quem sabe aquelas fotos tiradas na Indochina? Ou de Paraty? Ou talvez associar-se a uma parente que mora na Itália e trabalha com estamparias? A intuição e seus roteiros dirão.
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