sexta-feira, 7 de maio de 2021


07 DE MAIO DE 2021
CELSO LOUREIRO CHAVES

Reencontrar o sonho

Quando a vida nos submerge, raramente emergimos no mesmo lugar - isto é o que Mr. Dreamer, docudrama disponível no Now, demonstra. Deixando um sonho num lado da vida e voltando para buscá-lo décadas depois, o panorama é outro, há mais pessoas em torno, outros sonhos a alimentar para que não se percam. Quando se trata de música, então nem se fala. Os sons se multiplicaram e, pandemia ou não pandemia, há muito a descobrir e ouvir, para engatar naquele sonho que se deixou lá trás.

O docudrama de Pedro Sirotsky, Marcelo Ferla e Flavia Moraes é exemplar neste percurso de abandono e descoberta, de recuperação do tempo perdido e de reencontro com uma música que não é mais a mesma, embora a mesma canção do Supertramp continue chamando a memória, bem como fazia naqueles tempos do Transasom da televisão que Pedro deixou para trás, numa troca de rumo de vida.

Nota de rodapé: tive mais a ver com essa história do que parece. Quando Pedro deixou o Transasom, herdei o programa e a carga de responsabilidade de levar adiante um sonho. Na minha vida, é mais do que uma nota de rodapé. Foi um momento formativo que estendi por vários anos e que me deixou uma saudade boa e duradoura.

Boa parte de Mr. Dreamer se passa em Dublin e é quase impensável considerar que tudo o que se vê não esteja ocorrendo naquele momento mesmo. Por que Dublin? Ora, qualquer lugar é lugar para emergir e reencontrar o sonho, agora pelas mãos e vozes de músicos em formação, cheios de opiniões, instrumentos e canções. O docudrama mostra que sempre há música, mesmo que seja em tempos pandêmicos, mesmo que seja em Dublin.

Há vários caminhos que Mr. Dreamer propõe. De mãos dadas com novas gerações de músicos, há chances de andar por outras geografias. A Dublin de James Joyce (e dos novos músicos) é um exemplo potente a ser transplantado, com a mesma naturalidade e a mesma mão firme de atuação, roteiro e direção, para muitos outros lugares. Pois o que se vê em Mr. Dreamer supera a busca pessoal e mostra que, por aí, existe muita música a ser descoberta, como marca da vida que prossegue, de um sonho que permanece por anos a fio.

CELSO LOUREIRO CHAVES

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