terça-feira, 4 de maio de 2021


04 DE MAIO DE 2021
DAVID COIMBRA

Por que choram os Big Brothers

Fui ver um pedaço do BBB, antes que acabe. Que choradeira. Neste programa, no domingo, a direção da emissora apresentou uma edição com os melhores momentos de cada participante. Foi uma chance maravilhosa que eles tiveram de chorar à vontade e, assim, demonstrar sua humanidade. Um deles, o Gil, começou a chorar ANTES das cenas. Ele estava tocado por rever sua linda história na competição e o fato de ela ainda não ter sido apresentada era um pormenor de somenos importância. Outra participante, Camilla, disse, entre lágrimas, enquanto se assistia na tela:

- O que estou vendo é uma mulher forte.

Ela disse isso!

Acontece que o brasileiro chora. Nem tanto de dor, e mais de emoção consigo mesmo. Ele chora pelo que supostamente passou, ele chora por todas as presumidas dificuldades que enfrentou, ele chora por sua mãezinha, que fez sacrifícios para ele ter educação. Se for pobre, bem, ele quererá esquecer a pobreza. Mas, se for rico ou remediado, recordará aos soluços de seu passado de padecimentos. Ele saiu lá debaixo e agora está na capa da revista. Ele venceu.

O brasileiro talvez seja o oposto do inglês, que tem toda aquela fleuma... bem, britânica. Mas o curioso é que o personagem que é o símbolo do espírito inglês, Winston Churchill, era um homem que chorava, cantava, dançava, se emocionava em público. Se bem que, claro, ele estava salvando o Ocidente, não disputando a prova do líder.

Churchill era um homem emotivo, mas os ingleses, em geral, não são de chorar. No velório da Princesa Diana, um dos maiores episódios de comoção da história da Velha Álbion, eles mostravam toda a sua tristeza, sem chorar. Elton John chegou atrás de sua franjinha, sentou-se ao piano, cantou a bela Candle in the Wind, eu quase me despetalei feito um BBB, enquanto eles se mantinham frios e secos como... como ingleses.

Fosse no Brasil, os soluços abafariam o som da música.

Por que choramos tanto?

O pai do Chico tinha razão: somos um povo regido pelo coração. Estamos sempre prontos a nos comover e nos sentimos bem quando choramos todos juntos. Lembro das mortes de Tancredo em 85 e a de Senna em 94. Foram tão trágicas quanto a de Lady Di, mas muito mais pranteadas. Em ambos os casos, as pessoas corriam atrás dos carros de bombeiros que levavam os caixões e choravam e choravam sem parar, num desespero para ver o morto pela última vez. Foi um descarrego. O Brasil parecia estar lavando seus pecados com aquelas lágrimas. Ilusão, é óbvio. Os pecados continuaram conosco. Talvez até tenham se tornado mais graves e mais difíceis de pagar. Mas que choramos, ah, choramos.

DAVID COIMBRA

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