terça-feira, 4 de maio de 2021


04 DE MAIO DE 2021
INVASÃO VIRTUAL

Os efeitos do ataque hacker ao Judiciário

A rotina dos operadores do Direito no RS está tumultuada. Desde que o sistema de informática da Justiça foi alvo de ataque hacker, na última quarta-feira, servidores do Judiciário e advogados vivenciaram perdas de arquivos e invasão de contas e tiveram de conviver com atrasos processuais - esse, um problema que atingiu todos que atuam nesse ramo.

Só no Judiciário existem cerca 18 mil computadores, que tiveram de ser, de uma hora outra para outra, desconectados para evitar aumento da contaminação vir­tual. O Tribunal de Justiça (TJ) admite ter recebido relatos de que, além da paralisia nos processos, o vírus deixou rastro de prejuízos particulares a quem acessava os sistemas de informática judiciais no momento do ataque. Entre eles, servidores da Justiça e advogados, que tentam agora reaver seus arquivos atingidos pelos hackers.

ZH contatou algumas dessas pessoas, como a advogada porto- alegrense Fabiana Borba Hilário, especialista em Direito Familiar. Ela costuma acessar o site do TJ assim que amanhece. Para isso, deixa sempre aberto, com a senha salva, o eproc (um dos sistemas de movimentação virtual de processos). Na madrugada de quarta-feira, Fabiana tentou e a página travou. Foram várias tentativas, sem sucesso. Como a informação oficial era de que o eproc estava funcionando e os outros sistemas também, a advogada acessou o site pela manhã. Só que a invasão estava no auge.

- Quando entrei de novo no sistema do TJ e baixei um documento, apareceu uma tela estranha. Aí o computador trancou. Depois, desligou e não ligou mais. Levei a um técnico e ele disse que o HD foi corrompido. É um desespero, minha vida profissional está ali - desabafa.

Fabiana está convencida de que foi vítima de efeito colateral da invasão hacker ao Judiciário. Calcula que, só no que se refere ao ano de 2020, perdeu dados de 95 clientes que estavam no notebook. Petições, defesas, pesquisas de doutrina jurídica, cópias de leis. Todas as pastas sumiram. Ela não tinha backup da maioria dos documentos.

Atrasos

Outras centenas de processos, mais antigos, ela talvez consiga recuperar, quando o sistema do TJ voltar. Mas a respeito dos documentos do notebook, o técnico não deu muita esperança.

O que atingiu a todos os operadores do Direito é o atraso, em cascata, dos procedimentos. O criminalista porto-alegrense Lucio de Constantino calcula que mais de cem processos criminais seus sofreram retardo de prazos na semana passada. Alguns julgamentos começaram e não foram concluídos, outros foram adiados.

- A rotina no escritório, nos casos de urgência, está ocorrendo através de agendamentos junto aos plantões dos foros, por meio de WhatsApp - diz Constantino.

Policiais e integrantes do Ministério Público também tiveram dificuldade de conseguir mandados judiciais, mas aí apelaram para telefonemas aos juízes. Foram atendidos, na maioria das vezes, com despachos feitos à mão, como admite o desembargador Antonio Vinicius Amaro da Silveira, presidente do Conselho de Comunicação do TJ:

- Tivemos de retomar o uso daqueles velhos equipamentos, a caneta e o papel. Mas felizmente, os processos mais modernos já voltaram a ser acessados virtualmente.

A Polícia e o MP abriram investigação. A suspeita é de que tenha sido usado provedor no Exterior.

- São 18 mil máquinas. Terá de ser feita perícia nas que podem ter sido alvo e, só então, pedido de ação contra os suspeitos - pondera o delegado André Anicet.

HUMBERTO TREZZI

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