A flor no ombro do Buda
Mistérios, mistérios...um deles se apresentou botanicamente na área aberta do meu apartamento. A primavera engatinhava quando notei um ramo de planta crescendo na direção do Buda sentado sobre um pequeno estrado de madeira.
O Buda foi trazido da Índia. Para mim, não chega a ser um símbolo religioso, mas vai muito além de uma peça de decoração. Perdão, não é esse o meu relato.
O ramo veio crescendo e, na sua ponta, formou-se um botão. Que virou flor, dois dias depois. Uau, pensei, quando vi as pétalas brancas manchadas de roxo, exatamente sobre o ombro da pequena estátua. Tive certeza de que havia ali uma mensagem, um ensinamento. A flor no ombro do Buda. Na pior das hipóteses, é um baita nome de livro de autoajuda. Só falta agora escrever.
Mas aí a flor murchou, secou, morreu. E a vida seguiu. Uma semana depois, notei que um segundo ramo se esticava na mesma direção do anterior. Passados dois dias, pela manhã, uma outra flor nasceu. No mesmo lugar. Definitivamente, o cosmo tentava me mostrar alguma coisa, só que eu não entendia.
A história poderia terminar aqui, se não houvessem se sucedido pelo menos mais nove flores. No ombro esquerdo do Buda. Foi só ali que elas nasceram desse jeito, em série. Cheguei a comentar com um amigo budista. Mas os budistas que conheço não são definitivos, porque entendem de impermanência e sabem das conexões insondáveis do universo. Agora, com o verão chegando ao fim, pensei que tinha terminado. Semana passada, uma outra flor nasceu ali. No ombro do Buda. E nada de eu encontrar uma resposta. Talvez porque, me dei conta agora, a resposta pouco importe. As flores do ombro do Buda estão me ensinando, de forma suave e luminosa, sobre a beleza da pergunta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário