04 DE MARÇO DE 2021
POLÍTICA +
Cautela com a promessa de ministério
Pressionado pelos governadores e prefeitos, o governo Jair Bolsonaro reagiu e o Ministério da Saúde anunciou a compra de vacinas da Pfizer e da Janssen. Trata-se de excelente notícia, se os contratos forem de fato assinados e o programa nacional de vacinação deslanchar neste primeiro semestre.
Como estão escaldados pelas idas e vindas do governo federal no enfrentamento à pandemia, prefeitos e governadores que planejavam compras diretas não devem se desmobilizar até ter certeza de que as doses virão.
Ao mesmo tempo em que comemora a possibilidade de o Brasil receber vacinas de mais dois laboratórios, o governador Eduardo Leite mantém a cautela:
- De parte do Rio Grande do Sul, o anúncio não nos desmobiliza. Vamos continuar buscando frentes que nos permitam antecipar a vacinação. Saudamos a disposição do Ministério da Saúde de fazer as aquisições, mas aguardamos a confirmação dessa compra e, principalmente o cronograma.
Leite diz que, se as vacinas só vierem no segundo semestre, será tarde diante do colapso dos hospitais e do crescimento no número de mortes:
- Mais do que comprar vacinas, precisamos de um cronograma que garanta a antecipação da imunização. Infelizmente, temos tido constantes frustrações com o Ministério da Saúde, o que nos deixa ansiosos e nos incomoda.
Pela manhã, Leite postou mensagem no grupo de governadores, sugerindo um esforço diplomático para conseguir mais vacinas.
Como até aqui o Itamaraty atrapalhou as negociações para a compra do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), insumo necessário à fabricação das vacinas, retardando o início da produção no Brasil, o apelo tende a funcionar como mais um instrumento de pressão sobre o governo federal, que agiu movido por dois motores: a política e a economia.
No campo político, o presidente percebeu que corria o risco de ser atropelado pelos governadores, com quem disputa protagonismo e entre os quais poderá estar o adversário de 2022.
No campo econômico, a pressão vem do próprio ministro Paulo Guedes, do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e dos empresários que clamam pela vacina como caminho único para a retomada das atividades econômicas.
"A vida não tem VAR", diz médico
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, ontem, o presidente do conselho de administração da Unimed Porto Alegre, Flávio da Costa Vieira, fez um desabafo sobre a situação da pandemia e o sofrimento dos médicos, enfermeiros e gestores hospitalares durante a pandemia:
- Ao invés de falar de culpa, vamos falar de responsabilidade. Os gestores públicos estão tomando as decisões. Certas ou erradas, o tempo vai mostrar. Na segunda-feira, eu estava falando com o governador e disse a ele que os gestores têm alguma coisa semelhante ao juiz de futebol. Tu apitas o fato, tu tomas a decisão no momento. Só que na vida real não tem VAR. O juiz de futebol volta atrás, olha e muda o curso da história. A gente, como gestor, toma uma decisão e não tem VAR. Ela está tomada.
Os diretores de hospitais estão fazendo o que podem, realocando áreas, comprando equipamentos. Mas os médicos, os enfermeiros, os atendentes de enfermagem estão exauridos. Eu sei que me emociono ao falar disso, mas não tenho como ser diferente.
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