04 DE MARÇO DE 2021
ARTIGOS
A IMAGEM E AS MIL PALAVRAS
A mídia brasileira pode contribuir mais para o combate à pandemia. É verdade que grande parte tem apelado para que a população evite aglomeração e use máscara. São de fato as únicas armas enquanto a vacina não chega. Escrevo dos Estados Unidos, onde a imprensa não tem pudor em exibir cenas de pessoas doentes, entubadas ou até mortas. As fotos são chocantes sim, porém transmitem a correta e necessária percepção de gravidade.
Fiquei muito impactado quando comecei a ver as imagens por aqui e, confesso, passei a ter muito mais respeito (medo) pelo vírus. Observei a mesma reação nos grupos de WhatsApp para os quais enviei as imagens. Uma delas mostrava, em detalhes, a terrível condição e o sofrimento de um paciente entubado. A outra, era dos pés de uma mulher com as unhas pintadas de vermelho e uma etiqueta entre os seus dedos. Os tamancos coloridos ao lado dos pés da mulher, no necrotério, passavam duas mensagens subliminares: tratava-se de uma pessoa relativamente jovem e que não pôde ter contato com seus familiares antes de partir, pois seus pertences ainda estavam ali. Muito forte!
Não prego o sensacionalismo midiático, e sim uma forma mais eficaz de comunicar o perigo. O inimigo é feroz e, com a vacinação lenta, os cuidados pessoais são fundamentais. Aos negacionistas, que alegam que a mortalidade da covid-19 não é maior do que outras moléstias infecciosas, lembro o óbvio: os hospitais estão abarrotados, as pessoas estão morrendo não somente nas mãos dos médicos e longe da família, mas também por não terem a possibilidade de atendimento. Isso sem falar nos pacientes de outras enfermidades que sofrem com a falta leitos, o atraso em diagnósticos e a interrupção de tratamentos.
Apesar de não pertencer a nenhum grupo de risco e estar em ótima forma física, passei uma semana internado com 30% de comprometimento pulmonar. Atesto que não é uma "gripezinha" e nem está restrita aos idosos?
Portanto, faço este apelo a todos os jornalistas e editores. Sejam explícitos! Não tenham pudor em mostrar as entranhas dessa doença. As pessoas precisam ser fortemente impactadas, pois seguem aglomerando-se irresponsavelmente. Falar e escrever não basta, tem que mostrar, explicitar. Afinal, não é de hoje que sabemos que uma imagem vale bem mais do que mil palavras!
FERNANDO GOLDSZTEIN
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