04 DE FEVEREIRO DE 2021
ARTIGOS
A AGONIA DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO
Presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade de Engenharia do RS
O fechamento da Ford no Brasil está relacionado com suas estratégias corporativas mundiais e com a falta de competitividade sistêmica que causa a desindustrialização brasileira.
Temos, aqui no Estado, o caso do desmonte do Polo Naval de Rio Grande, com seriíssimas implicações econômicas e sociais. Em 2013, no auge das operações e graças à ativação de uma ampla cadeia produtiva, a região crescia cerca de 20% ao ano e o polo chegava a empregar 24 mil trabalhadores. Profissionais se qualificaram em técnicas e conhecimentos altamente especializados e empresas projetaram shopping centers, hotéis e infraestruturas para as oportunidades de um cenário prometido, ativando famílias de empreendedores a investir seus recursos.
Porém, com a necessidade indiscutível de punir a corrupção, o setor naval e outras áreas da indústria nacional acabaram sendo impactados. A punição social foi muito maior do que a aplicada aos corruptos: milhares de trabalhadores perderam seus empregos e, até hoje, penam para se reinserir no mercado. O desfecho poderia ter sido outro, se os fatores econômicos e sociais dos processos de compliance tivessem sido isolados, como forma de preservar os empregos e favorecer a sociedade local.
Em 2016, ao transferir a construção de suas plataformas para a Ásia, a Petrobras extinguiu mais de 5 mil empregos em Rio Grande, número superior ao desaparecimento de postos de trabalho causados, agora, pela saída da Ford do Brasil - e sem as comoções que ora assistimos.
Atualmente, a falta de políticas para a indústria está levando a mesma Petrobras a construir as plataformas P-78 e P-79 na China, onde criará 80 mil vagas de trabalho, enquanto aqui atingimos novo recorde de desemprego. Já nos EUA, o presidente Joe Biden está criando o Buy American, a fim de direcionar as compras para os fornecedores nacionais, como outros países também estão fazendo.
A dramática desindustrialização brasileira causou, entre 2015 e 2016, perdas de R$ 146 bilhões à indústria pesada, sacrificando empregos e o sonho de um crescimento compatível com o nosso potencial. "Valorizar a industrialização nacional" tornou-se uma cantilena política desprovida de ações efetivas e ágeis que a viabilizem. Diante desse quadro, resta-nos refletir: quando, efetivamente, a agenda de país irá superar a polarização política e visará a ações concretas para beneficiar a sociedade brasileira? E nós, gaúchos, o que podemos fazer para que o Polo de Rio Grande renasça?
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