sexta-feira, 29 de janeiro de 2021


29 DE JANEIRO DE 2021
CELSO LOUREIRO CHAVES

Olimpíadas

As Olimpíadas de Tóquio de 1964 deram um filme que é considerado um dos melhores filmes sobre esporte. Claro que tem Olympia de Leni Riefenstahl sobre a Olimpíada nazista, mas aí o subtexto ideológico faz com que se veja o filme meio de perfil. O de Kon Ichikawa, não - é mais triunfalista do que ideológico e sua duração meio exagerada é uma curiosidade que, como todas as curiosidades, pode ser investigada no YouTube.

A música de Tokyo Orimpiku é de Toshiro Mayuzumi, compositor que levou para o Japão os princípios da vanguarda musical europeia dos 1950. Na altura do filme das Olimpíadas, ele já tinha feito duas obras inacreditáveis, a sinfonia "Nirvana" e a sinfonia "Mandala". Só depois disso ele entrou para a música dos filmes de John Huston, principalmente A Bíblia... No Princípio, inapelavelmente brega com o próprio Huston fazendo a voz de Deus.

Mayuzumi se saiu bem nos filmes de John Huston. Saiu melhor do que os filmes, aliás, que não passam à frente das Olimpíadas de Tóquio. As Olimpíadas de 1964, porque as de 2020 continuam na incerteza. Isso mesmo: há quase um ano, se achava que essa coisa da covid-19 estaria terminada em questão de meses e os meses foram passando, os casos e as vítimas se acumulando, sem nenhum sinal de que tudo esteja por parar.

Agora, que se fecha esse ciclo de um ano, tudo continua na mesma, a bem dizer, só com mais aglomerações. Ou seja, a crise de saúde continua aguda, com uma desilusão agravada da qual não se quer nem falar: a de que as vacinas, que já estão aí, se tornaram joguete político e são em número reduzido incapaz de fazer com que o ano de agora seja diferente do ano de recém ontem.

Com isso, a catástrofe na música prossegue e se alarga. Quem diria, há um ano, que não haveria carnaval e que concertos, óperas, temporadas permaneceriam em suspenso, lançando a música na incerteza cada vez mais funda sem previsão de um retorno para logo em seguida. Enquanto a crise machuca e mata, restou brigar por tempos melhores, talvez ouvindo Toshiro Mayuzumi para dar som às recordações de um período saudoso do esporte, já que para os músicos de hoje, a ginástica artística é mesmo a luta pela sobrevivência.

CELSO LOUREIRO CHAVES

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