O hino e as vozes
O Movimento Negro Unificado se manifestou sobre o Hino Rio-Grandense. Abaixo, um resumo do texto enviado ao Informe Especial:
"A luta contra o verso ?povo que não tem virtude acaba por ser escravo? (...) tem por volta de 30 anos, trazida pelo nosso grande professor, poeta, escritor, idealizador do 20 de novembro como dia da Consciência Negra e fundador desta entidade, Movimento Negro Unificado, Oliveira Silveira.
(...) A juventude negra, há muito tempo, não se levanta quando o hino é executado, exatamente como forma de resistência".
O texto também informa que o movimento negro não está apoiando um concurso para definir uma sugestão de mudança do hino. "Entre as propostas que ouvimos atentamente, está a de criação de concurso para modificação. No entanto, não houve deliberação", afirma a nota oficial.
No final, uma síntese dos posicionamentos do MNU:
1 - É necessária a mudança do hino gaúcho por violação à dignidade da pessoa humana.
2 - Que o verso seja o já proposto pelo grande idealizador desta mudança, Oliveira Silveira: "Mas não basta para ser livre ser forte aguerrido e bravo, povo que é lança e virtude a clava quer ver escravo".
Prefeito Melo, a festa acabou
"Quero ser o prefeito de todos os porto-alegrenses." Sebastião Melo não foi o primeiro a pronunciar a frase depois de vencer uma eleição. No mundo simbólico, funciona. Demonstra a disposição para o diálogo, especialmente dirigida aos eleitores derrotados nas urnas. Mas, na prática, Melo precisará escolher caminhos. Porto Alegre já não é uma das capitais brasileiras com menos mortos por covid-19, na relação entre o número de vítimas e o de habitantes.
Catar lixo na orla do Guaíba é, sem dúvida, uma baita iniciativa. Foi o que Melo fez no fim de semana, ao mesmo tempo que prometia absoluto rigor contra aglomerações. A ação ecológica levou em conta todos os cuidados de distanciamento e de uso de máscaras. Mesmo assim, passa uma mensagem, no mínimo, dúbia. Andar muito na rua é a coisa certa a fazer para um homem público, mas não agora.
Melo conta com uma gama plural de apoiadores. Entre eles, um aguerrido grupo de adversários da vacina e de defensores da tese - furada - de que a pandemia só se resolve com a contaminação que levaria à imunidade de rebanho.
Nos meus mais de 25 anos de jornalismo, raras vezes vi um político com tanta vontade de acertar como Sebastião Melo. Mas, em breve, o prefeito irá deparar com uma encruzilhada. Não é possível manter a cidade aberta, fazer carinho nos defensores da cloroquina, juntar gente para recolher lixo na orla e, ao mesmo tempo, garantir a prioridade de cuidar da vida em tempos de covid-19.
Na última sexta-feira, o Conselho da Faculdade de Medicina da UFRGS divulgou uma nota com críticas ao relaxamento das medidas de distanciamento e ao fornecimento de "medicamentos sem comprovação científica para a profilaxia dessa infecção". A mensagem tinha o CEP do Paço Municipal. O governo Melo pediu 25 mil doses de hidroxicloroquina ao Ministério da Saúde de Bolsonaro.
A festa acabou. Por mais paradoxal que pareça, para ser o prefeito de todos, Melo terá de desagradar a alguns.
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