07 DE JANEIRO DE 2021
LEANDRO FONTOURA INTERINO
Políticas inteligentes
A renovação dos mandatos municipais é uma oportunidade para quem está disposto a discutir política sem cair na polarização inconsequente e improdutiva que tomou conta da vida pública brasileira. Em meio a bate-bocas em clima de guerra de torcida, teorias sobre vacinas e cancelamentos de quem pensa diferente, é possível estudar e debater formas de melhorar as cidades por meio de políticas inteligentes.
Aprofundar o uso da tecnologia nos serviços públicos resulta em diminuição de desperdícios, eficiência e ampliação da cobertura e melhora na qualidade de vida da comunidade. Há também o aperfeiçoamento constante do atendimento, uma vez que o uso dos serviços inteligentes pelo cidadão alimenta o poder público com dados que auxiliam na avaliação da efetividade da política e na identificação de problemas. Nada disso é novo e tem origem nas primeiras iniciativas de reforma gerencial da máquina pública, a partir do final dos anos 1990. A novidade dos últimos anos é a redução das divergências políticas que envolveram esses processos iniciais de modernização da gestão burocrática.
Levado à esfera municipal, o foco em políticas inteligentes costuma gerar inovações. Em 2012, por exemplo, São Carlos foi uma das pioneiras na criação de um aplicativo para monitorar linhas do transporte coletivo. O app havia sido desenhado para auxiliar deficientes físicos e visuais. Aos poucos, passou a ser usado pelo restante da população, informando, gratuitamente, a distância, o total de paradas no trajeto e o tempo de espera do ônibus. Porto Alegre só foi ter seu app em 2019.
O Ranking Connected Smart Cities é bom guia de por onde o debate sobre inovação está avançando. Desde 2015, o estudo aponta as cidades brasileiras mais inteligentes e conectadas por meio do cruzamento de 70 indicadores em 11 eixos, como mobilidade, urbanismo e governança. Esse leque de áreas examinadas ajuda a jogar luz em novas formas de gestão municipal.
O levantamento, que analisa municípios com mais de 50 mil habitantes, também serve para avaliar o desempenho do Rio Grande do Sul. Nas últimas duas edições, apenas Porto Alegre está entre os 20 municípios mais avançados, em nono lugar em 2020 e em 20º em 2019. Mesmo tirando as capitais da lista, que pelo tamanho e força econômica tendem a liderar, nenhuma prefeitura do RS aparece nas 20 primeiras posições. E o Estado tem mais de 40 municípios com população acima de 50 mil. Nos dois levantamentos, destacam-se gestões catarinenses e paulistas.
Nosso desafio é melhorar esses indicadores no Estado e no resto do Brasil. É possível fazer isso contando com as forças políticas estabelecidas nos marcos da democracia, mas, para ouvir e participar do debate, é preciso se afastar da gritaria dos extremos polarizados.
*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 15/01.
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