quarta-feira, 20 de janeiro de 2021


20 DE JANEIRO DE 2021
MÁRIO CORSO

Apertem os cintos, o piloto sumiu

 

Em 2019, quando ainda podíamos voar sem perigo de contágio, presenciei o seguinte. A fila na entrada do avião trancou por momentos. Um jovem aproveita para falar com o comissário e o piloto que davam boas-vindas aos passageiros: "Se precisarem de mim estou à disposição".

O piloto responde: "Você é colega? Civil ou militar?".

O jovem contesta: "Não sou. Não entendo nada de avião. É que a tendência do momento é colocar gente despreparada nos lugares-chave".

Risos nervosos de todos, inclusive o meu. A tirada foi ótima, captou o que estava e segue no ar. Como nunca, pessoas desqualificadas assumem cargos para os quais não têm preparo, vocação, ou noção das atribuições.

Na verdade, essa piada pode ser entendida como desdobramento de uma outra, antiga, que dizia que o mundo só entraria nos eixos quando um motorista de táxi, ou um barbeiro, estivessem no poder. Ambas são profissões que vivem também da arte da fala, no intuito de preencher o tempo com o cliente. Para tanto, vez por outra, estão a resolver os problemas do mundo com soluções simples. Mas vamos convir que é preconceito, e que essas atividades, antes fosse, não possuem o monopólio da falta de noção.

Quando vejo o general Pazuello como ministro da Saúde, fazendo toda sorte de trapalhadas, lembro da brincadeira com o piloto que contei acima. Sendo especialista em logística, e deixando faltar de tudo, é de se perguntar se ele desmoraliza mais os militares ou a ciência da logística?

Uma piada que escutei diz que, se o Pazuello tivesse chefiado a logística do desembarque na Normandia, em uma semana os alemães estariam em Londres. Outra fala do perigo de a Bolívia julgar a totalidade do exército brasileiro por ele e tentar sua histórica reivindicação de uma abertura para o mar, não ao Oeste, mas ao Leste, às nossas custas.

A única lição positiva que podemos tirar disso é o desmonte de alguns mitos. O primeiro é o de que nossos militares seriam bons gestores. Como em qualquer profissão, tem os bons, os medíocres e os péssimos.

O segundo é o de que, para algo funcionar, precisaria de autoridade. Brasileiro tem fetiche pela autoridade que julga faltar ao país, como se a hierarquia, por si mesma, ajudasse a trazer bons frutos. Pazuello só está lá pela sua obediência cega, só assim para seguir com a patacoada da cloroquina. Ninguém sério, ou que conhece os últimos estudos, segue falando do que não existe: tratamento precoce para covid-19.

O terceiro é o de que bastaria vontade e bom senso para as coisas fluírem. Isso traz embutida a ideia de que a expertise pode ser adquirida facilmente. O ministro nunca antes teve ideia do que são os processos no Ministério da Saúde, nem sequer sabe mínimos rudimentos de medicina, deu nessa sucessão de erros.

Infelizmente, nada disso é piada. O preço desse voo cego está sendo pago com sangue de brasileiros.

MÁRIO CORSO

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