12 DE JANEIRO DE 2021
PATRÍCIA ROCHA INTERINA
Uma nova plateia
Acústica perfeita, efeitos especiais de primeira e as melhores performances ao vivo são garantia de um bom espetáculo, a gente sabe. Mas, passado quase um ano em que o entretenimento se deu essencialmente no sofá de casa, pela tela, percebemos o valor de uma peça-chave dessa equação: o público.
Aquele filme surpreendente te toca mais ainda ao ver emoção espelhada no rosto de desconhecidos quando as luzes se acendem, depois de ter rido e (com frequência, no meu caso) chorado junto com eles durante a sessão. Tua banda favorita te arrebata muito mais quando é possível cantar junto com milhares de pessoas em uma catarse coletiva.
Tivemos as lives, que trouxeram nomes como Caetano, Gil e até Ivete Sangalo de pijama para a nossa sala, e boas pedidas da TV aberta a que assistimos coletivamente, como as séries Diário de Um Confinado e Amor e Sorte. E sempre com a possibilidade de interagir em tempo real com comentários, hashtags e memes pelas redes sociais. Mas uma conexão mediada pela tela, pelo teclado.
Nestes tempos em que a era dos muitos sucessos massivos e aquelas atrações de parar o país vêm cedendo lugar a uma nova forma de consumir cultura e entretenimento, em que cada um faz seu próprio cardápio nichado e decide quando e onde assistir, a plateia mostrou ainda mais o seu valor. É no escuro do cinema e dos teatros e casas de show, compartilhando o mesmo momento, que a sensação de estar junto se dá de verdade.
Mas a arte, a indústria do entretenimento e a própria plateia não serão as mesmas depois da pandemia. Ao menos por um bom tempo. A retomada que se inicia em Porto Alegre com o novo decreto da prefeitura deve ser encarada com todos os cuidados sanitários e o comprometimento de cada um para que, logo em seguida, não sejamos obrigados a dar dois passos atrás. Afinal, a pandemia segue, alarmando profissionais da saúde e aumentando a triste marca de mais de 200 mil mortos no Brasil - no Estado, estamos prestes a superar as 10 mil vidas perdidas. Aquelas aglomerações de que sentimos falta, quando entoávamos juntos o "por que parou, parou por quê?" à espera do bis, ainda estão a uma vacina de distância. Por ora, a fruição deve vir acompanhada de cautela e responsabilidade - consigo mesmo e com o outro.
A longo prazo, este período de exceção nos legará novas possibilidades com as muitas e bem-vindas experiências digitais de músicos, grupos de teatro e museus que se reinventaram para ir até o espectador: tivemos até peça de teatro via WhatsApp no Porto Alegre Em Cena. O palco se ampliou na medida em que o público estava disperso. E a plateia também evoluiu, testou formatos, revisitou memórias, aprendeu com a saudade. Tudo para que o reencontro, no tempo de cada um, priorizando a segurança de todos, seja de fato um espetáculo memorável.
*O colunista David Coimbra está em férias e retorna no dia 15/01.
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