sexta-feira, 29 de janeiro de 2021


25 DE JANEIRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

O BRASIL E A FILA

Mesmo que se tratem, pelo que se sabe até agora, de desvios pontuais, é fundamental que sejam esclarecidas imediatamente as denúncias de que a fila de vacinação não está sendo respeitada em alguns municípios do Rio Grande do Sul. Reportagem publicada por Zero Hora no fim de semana revelou que pessoas em desacordo com os critérios de prioridade estariam recebendo a imunização. Como se isso não bastasse, em alguns casos, registrados não apenas no Estado, mas em todo o país, indivíduos que se julgam acima da ética e da lei postaram fotos com certificados nas redes sociais, ostentando um privilégio ao qual não teriam direito e uma atitude da qual deveriam se envergonhar. 

É o que se viu em Manaus, onde duas irmãs recém-formadas, filhas de um homem com influência na política local, publicaram as imagens delas mesmas sendo vacinadas, enquanto o sistema de saúde da cidade colapsava, sem oxigênio e com filas de pacientes à espera de leitos em UTIs.

Diante desse e de outros descalabros, a reação foi exemplar. No Rio Grande do Sul , o Ministério Público (MP-RS) se mobilizou rapidamente. Por meio do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos, da Saúde e da Proteção Social, investigações foram iniciadas juntos às prefeituras que, eventualmente, teriam descumprido as regras que estabelecem a ordem de vacinação. Cabe ressaltar que estes critérios foram construídos com base em indicações científicas e não podem ser maculados pela tentativa de levar vantagem ou de privilegiar poderosos e amigos do poder.

Garantir que os grupos mais vulneráveis, compostos, entre outros, por idosos e profissionais da saúde, sejam os primeiros a receber proteção contra a covid-19 levará a uma queda significativa no números de internações e óbitos, ao mesmo tempo em que evitará baixas entre médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, fisioterapeutas e demais integrantes das equipes da linha de frente do combate à pandemia.

Tão importante como levar à punição eventuais descumprimentos das regras, a ação do MP-RS tem a missão de zelar pela credibilidade de todo um sistema que, mesmo quando funciona bem, sofre ataques de negacionistas e de adversários da ciência, alguns deles alojados nas entranhas do próprio governo federal.

Furar a fila da vacinação é um ataque injustificável ao bom senso e à lei. É inadmissível que os brasileiros tenham de enfrentar mais esse absurdo, enquanto acompanham os dados sobre o recrudescimento da covid-19 no país, fenômeno turbinado pela falta de planejamento e de ação das autoridades de Brasília. Não sabemos quando haverá vacinas em número suficiente, enquanto outros países do mundo caminham céleres para a imunização em massa das suas populações e, com isso, para a retomada da normalidade social e econômica. De fato, o Brasil, por culpa própria, ficou para trás no ranking das nações que se organizaram para sair da crise sanitária. E nem adiantaria tentar furar essa fila. Quando o assunto é a saúde da população, o jeitinho, a politicagem, o radicalismo ideológico e a falsa esperteza não costumam dar bons resultados.

OPINIÃO DA RBS

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