Pátria
Assisti com alguns meses de atraso àquela que pode ter sido uma das melhores (e menos comentadas) minisséries de 2020.
Pátria, uma produção da HBO Europa com colaboração da HBO América Latina, é baseada no livro homônimo do escritor espanhol Fernando Aramburu (Intrínseca, 512 páginas, R$ 64,90). Estreou em setembro, mas ainda dá tempo para correr atrás do prejuízo: os oito episódios da série estão disponíveis para assinantes da HBO Go e do Now.
A história começa em 10 de janeiro de 2011, dia do anúncio do cessar-fogo "permanente, geral e verificável" da organização nacionalista basca ETA - responsável por mais de 3 mil atentados e centenas de mortes ao longo de mais de quatro décadas de atuação na Espanha. Através de flashbacks, que recuam até o início dos anos 1990, a série mostra como duas famílias muito próximas, de um pequeno povoado do País Basco, foram marcadas pela violência do terrorismo e das forças de repressão.
As personagens centrais são duas senhorinhas, Bittori (Elena Irureta) e Miren (Ane Gabarain), amigas outrora íntimas que acabam ficando em lados opostos do conflito nacionalista quando o marido de uma é morto pela organização terrorista à qual o filho da outra pertence. Não é toda hora que a melhor série em cartaz é estrelada por duas personagens com mais de 70 anos tão combativas e apaixonadas pelas causas que defendem como são devotadas aos filhos e ao lugar onde nasceram.
As feridas que sangram essa pequena comunidade basca têm raízes históricas que remontam à Guerra Civil Espanhola (1936-1939), mas a radicalização de um país cindido por paixões políticas aparentemente irreconciliáveis tem muito em comum com o momento que vivemos em 2021, e não apenas no Brasil. Pátria mostra até que ponto dores e ressentimentos não elaborados podem dividir uma família ou um país - e o quanto pode ser longo e árduo o processo de pacificação.
Para explodir uma ponte, basta um aloprado. Para reconstruir, é preciso um pelotão de pessoas de boa vontade.
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