sexta-feira, 29 de janeiro de 2021


28 DE JANEIRO DE 2021
ZÉ VICTOR CASTIEL

Uma grande obra de terror

Se hoje me pedissem para encomendar um filme de terror, eu, certamente, não cairia nos estereótipos de múmias, vampiros ou exorcismos. Ao contrário, gostaria de ver retratadas nas telas as agruras e dificuldades vividas pelos cidadãos de uma capital, com relação a serviços públicos essenciais. Não importa se o contribuinte paga muito ou pouco ou não tem condições de pagar o IPTU, todos teriam uma história horripilante para contar.

Meu filme focaria nas bocas de lobo que não sofrem nenhum tipo de desentupimento ou manutenção. Isso, na verdade, deveria ser um serviço regular e contínuo. O que se vê são alagamentos que poderiam ser evitados por uma simples ação das prefeituras.

Com bocas de lobo entupidas, a vazão se estanca com uma chuva moderada, e o resultado é o que se vê: ruas que parecem córregos e residências de contribuintes, cujos ralos não conseguem encaminhar a água residencial, provinda da chuva, para os bueiros na rua, porque estes estão entupidos.

O mais assustador desse filme seriam os contribuintes tentando avisar do problema através de um site, que manda entrar num aplicativo, que remete a um número de telefone que nunca atende e, ao final, recomenda que se entre no site.

O filme teria grandes atores e cenas fortíssimas (não recomendadas às crianças) de contribuintes, pobres ou ricos, contando seus prejuízos dia sim, dia não, principalmente nesta época de verão em que as chuvas, apesar de rápidas, são fortes e frequentes.

Meu filme terminaria com um dos atores fazendo um apelo emocionado para que as pessoas fossem educadas e nunca descartassem lixo nas ruas e que as autoridades cumprissem seu dever mínimo de fazer com que o departamento responsável fosse efetivo e atencioso com quem, ao fim e ao cabo, paga o seu público salário.

Com uma trilha sonora horripilante, sairíamos do cinema pensando em como vivemos situações semelhantes e nem pelas máquinas somos atendidos. Um filme em que água fétida de esgoto invade as residências em meio a uma pandemia é, realmente, uma grande obra de terror.

ZÉ VICTOR CASTIEL

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