domingo, 31 de janeiro de 2021


30 DE JANEIRO DE 2021
MONJA COEN

BUDA E A MENINA INTOCÁVEL 

Havia uma menina muito pobrezinha, que ficou sabendo da vinda de Buda e de seus discípulos para as proximidades do vilarejo em que morava.

Isso se deu na Índia, há mais de 2,6 mil anos.

Era hábito, nessa época, colocar lâmpadas de óleo no caminho, para que os visitantes soubessem a trilha.

Ora, as pessoas ricas do vilarejo e cercanias compraram muito óleo e mantiveram grandes tochas acesas, desde o amanhecer do dia da esperada visita.

A menina havia ouvido falar de Buda - um ser do bem, que acolhia a todos, sem reservas. Era respeitoso e honrava cada vida humana, bem como animais, plantas, água, terra e vento.

As histórias sobre o príncipe que se tornara mendigo para beneficiar as pessoas era fascinante.

Ela, a menina, não era apenas pobre.

Na Índia, havia um sistema de castas e a nossa amiguinha fazia parte do grupo discriminado, chamados intocáveis. Pessoas que não pertenciam a nenhuma casta e consideradas inferiores até aos escravizados.

Havia um relato de que Buda, caminhando por Varanasi - uma das cidades mais antigas do mundo -, aproximou-se de um intocável. Ora, a lei da época era severa: a sombra de um intocável não poderia tocar a sombra de uma pessoa de qualquer casta. Buda foi caminhando em sua direção. A ruela estreita, o jovem assustado tropeçou e derrubou os excrementos humanos que ele carregava. Seu trabalho era limpar latrinas.

Assustado, já se viu morto quando, qual não foi sua surpresa, Buda se aproximou, ajoelhou-se ao seu lado, ofereceu-lhe a mão para que se levantasse e conversou por um longo tempo com ele. O jovem pária (outra palavra para os discriminados) se tornou um discípulo de Buda.

Por isso a menina queria oferecer a ele uma lamparina. Sem dinheiro algum, sem nada que pudesse trocar por uma lâmpada, ofereceu seus longos cabelos negros.

Com a pequenina lâmpada na mão, correu para a estrada que dava entrada ao vilarejo e, entre as outras enormes lamparinas, com carinho e respeito, colocou a pequenina luz.

Algumas pessoas zombaram dela. Há pessoas assim, que zombam de outras, que batem, apertam, até que morram sufocadas. As pessoas que agem assim são fracas, tolas, covardes e racistas. Aconteceu com Beto, no Carrefour, aconteceu no Capitólio dos Estados Unidos dia 6 de janeiro - uma violência sem sentido, de perdedores que não sabem perder.

Nesse exato momento viu-se uma poeira se levantando lá longe. Todos olharam. Buda se aproximava, seguido por seus discípulos e suas discípulas. Era lindo de se ver. A menina ficou ajoelhada, ao lado de sua lamparina. As grandes pessoas ricas e importantes nem a viram mais. Cada uma queria ficar na frente da outra, cada uma perto de sua grande tocha, exibindo suas riquezas e aguardando por bênçãos especiais, retribuição por suas doações.

Entretanto, houve uma forte ventania. Todas as lâmpadas se apagaram. Apenas a pequenina lamparina da menina se manteve acessa.

Buda se aproximou da jovem, que de joelhos e de mãos postas sorria e chorava.

Namastê (o sagrado cumprimenta o sagrado).

MONJA COEN

Nenhum comentário: