sexta-feira, 15 de janeiro de 2021


15 DE JANEIRO DE 2021
ARTIGOS

O que não foi revelado

Analista de Assuntos Estratégicos | 

O comunicado da montadora Ford, de encerrar sua produção de automóveis no Brasil, a exemplo da Mercedes Benz, deve ser visto com especial atenção. Não se pode desconsiderar que o setor automobilístico é responsável por 22% de toda a produção da indústria nacional e representa 4% do PIB brasileiro, além de gerar cerca de 1,5 milhão de empregos diretos e indiretos, segundo dados do Ministério do Trabalho.

As alegações de ambas as empresas recaíram no custo Brasil, na pandemia de covid-19, que reduziu sensivelmente as vendas, somada à desvalorização da moeda nacional, além da necessidade de modernização de suas plantas industriais para fazer frente à indústria asiática de veículos elétricos. Todavia, seriam essas questões suficientes para uma decisão tão radical já que contornamos crises semelhantes no passado?

Por que da escolha de Argentina e Uruguai, economias em piores condições do que a brasileira e que também sofreram graves impactos pela pandemia? Claro está que a insegurança jurídica e as promessas não cumpridas de revitalização da economia também fazem parte desta conjuntura, uma vez que acarretam descrédito para investidores internacionais, que temem depositar seu dinheiro em países instáveis. As palavras do presidente Jair Bolsonaro de que "o Brasil está falido", independentemente do contexto em que foram ditas, podem ser um indicador de tempos difíceis para todos os setores produtivos.

Seguindo essa mesma tendência, não será surpresa se a montadora GM, no RS, adotar o mesmo caminho, o que os economistas chamam de efeito manada, uma verdadeira catástrofe para um Estado combalido pela crise econômica e sem grandes perspectivas, pelo menos a curto prazo, como tantos outros.

Passado o impacto inicial dessas perdas, o ponto principal que deve ser avaliado com muita atenção não é apenas o que já foi dito, mas, especialmente, o que não foi revelado e as causas que pautaram tais decisões. A pergunta natural que surge no momento é o que as empresas automobilísticas estão enxergando em perspectiva em relação ao futuro da economia brasileira que nós ainda não percebemos, desviados da atenção pelos efeitos da pandemia e pelas constantes crises político- institucionais? E, caso existam, possuímos a capacidade de revertê-las?

ANDRÉ LUÍS WOLOSZYN

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