16 DE JANEIRO DE 2021
MONJA COEN
A SABEDORIA CONTRA O EGO
O verdadeiro e puro corpo dos ensinamentos não aparece nem desaparece. Essa frase faz parte de uma homenagem budista, uma dedicatória a uma pessoa sábia.
Sem ir nem vir. A sabedoria é maior do que um ser humano, mas se manifesta em um ser humano. E a pessoa verdadeiramente sábia não se considera sábia. É humilde, capaz de ouvir a todos e entender a todos, capaz de criar causas e condições de afeto e respeito.
Falta-me muito ainda para ser sábia.
Tenho dificuldades infinitas com discípulos e discípulas. Quando penso que está tudo certo, surgem notícias alarmantes de erros, faltas, desvios do Caminho.
Nada tão grave como o que temos tido conhecimento em outras tradições espirituais. Mas, um certo descaso, desrespeito, falta de gratidão. Não querer ouvir conselhos, como adolescentes rebeldes.
Por quê?
Talvez, como muitos pais e mães podem estar pensando neste momento: onde foi que errei?
Talvez não soubesse transmitir o essencial: o respeito aos nossos pais, avós, professores e professoras.
Tantas crianças e adolescentes precisaram estudar a distância. Difícil. Os educadores e as educadoras se reeducaram. Voltaram a ser alunos.
Aprender a usar as redes sociais, abrir e fechar plataformas, dar aulas virtuais.
E aulas virtuais não podem ser como aulas presenciais. É preciso maior interação, participação de quem aprende - ou tenta aprender.
Como provocar as pessoas ao prazer do estudo, da leitura, do conhecimento que diverte, estimula muito mais do que jogos, trabalho, bebidas, drogas, sexo?
Nossas aulas, palestras, eventos precisam ser mais dinâmicos, interativos.
Como superar os obstáculos da vergonha e medo de falar, fazer comentários, responder ou fazer perguntas com seus colegas assistindo? Percebem? Queremos impressionar nossos amigos e amigas, queremos ser raros, especiais, divinos. Ou queremos nos esconder e não ser vistos. Tudo isso é o amigo ego, o euzinho. Ele pode ser um problema em nossas vidas. Fica emburrado, bravo, vai embora. Não admite qualquer crítica, qualquer riso. Quer sempre ser admirado, mas faz pouco para isso. Portanto, insisto, vamos meditar. Vamos sentar em silêncio em meio a tanta turbulência e barulho que esses poucos 15 dias de ano nos trouxeram. Sentar em silêncio, sem aglomerações, de máscaras, distantes, à beira do Guaíba, com um chimarrão só seu, água quente e o entardecer que nos torna doces e amorosos. Ouvir os quero-queros afastando intrusos de seus ninhos e se expondo para salvar os pequeninos. Você é capaz dessa querência? Da querência de se expor pelo bem verdadeiro? Pelo amor incondicional? Pelo respeito a vida e o direito à vida, saúde, justiça de todos?
Está na hora de despertar. Janeiro de 2021.
As vacinas hão de chegar a todos os rincões. Pouco a pouco a humanidade ganhará anticorpos e poderá conviver com o coronavírus. E você, poderá conviver com erros, faltas, maldades sem ser contaminado? Será capaz de criar anticorpos resistentes à ganância, raiva e ignorância?
Que possamos ser gratos a quem segurou nossa mão para desenhar nosso nome pela primeira vez... A quem nos convidou a caminhar e com ternura, sorrindo nos chamava... A quem nos permitiu estudar, praticar e desenvolver nossos talentos (com sangue, suor e lágrimas). E nossos colegas que facilitaram nossos estudos e nos provocaram com suas dúvidas?
Você pode, eu posso, nós podemos.
Ir além.
Transcender o eu menor e despertar em gratidão, amor incondicional, respeito verdadeiro por todos que nos trouxeram até aqui, agora.
Desperte! Agradeça e reconstrua sua vida. Sempre é momento de reiniciar essa jornada. Este ano será tão bom quanto cada um de nós o fizermos bom.
Mãos em prece.
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