sábado, 23 de maio de 2009



24 de maio de 2009
N° 15979 - MOACYR SCLIAR


A passeata do amor

A passeata do Movimento dos Sem Namorados, promovida por um site de relacionamentos e realizada no centro do Rio de Janeiro, na semana passada, certamente marca uma nova etapa na eterna busca de homens por mulheres e vice-versa.

Cerca de 200 manifestantes marcharam ao som da banda do bloco de Carnaval Cordão da Bola Preta, o mais antigo da cidade. Objetivo? Encontrar a paixão de suas vidas. Como disse uma senhora já de certa idade e que ali estava: “Passei a vida inteira solteira porque a família me prendia, agora que enterrei todo mundo quero namorar”.

É um desejo quase universal: o desejo de encontrar o príncipe encantado ou a princesa encantada. Encontram-se, apaixonam-se instantaneamente, enfrentam algumas dificuldades (que só servem para estimular ainda mais a paixão) casam-se e, idealmente, são felizes para sempre. É a saga do amor romântico, que emergiu no Ocidente no começo da modernidade.

Nem sempre foi assim. No passado, os jovens casavam com a pessoa que seus pais escolhiam, e esta escolha muitas vezes correspondia a pactos entre famílias ou à determinação do patriarca. E podemos imaginar que muitos rapazes e moças aceitavam com resignação esse destino, da mesma forma como aceitavam trabalhar na propriedade agrícola ou no estabelecimento comercial do pai ou, no caso da mulheres, a vida de dona-de-casa.

Enquanto as populações eram pequenas e viviam em aldeias, o arranjo do casamento era um processo fácil. Mas nas cidades foi ficando cada vez mais difícil. Onde arranjar o par conveniente para o filho ou filha?

Surge assim a figura, não raro pitoresca, do casamenteiro ou da casamenteira. Uma pessoa que era uma hábil intermediária, e que sabia “vender” potenciais noivos ou noivas, apregoando qualidades pessoais ou riqueza da família; uma figura pitoresca, que inspirou livros, peças teatrais e até um famoso musical, Hello, Dolly.

De qualquer jeito, porém, era um casamento arranjado, e a decisão a respeito quase sempre ficava com os pais do rapaz ou da moça. Lá pelas tantas os jovens cansaram disso e resolveram casar (ou viver) com a pessoa de sua escolha. O que certamente foi um progresso. Mas de novo o problema surgiu: como encontrar o príncipe ou a princesa encantados?

Volta à cena o casamenteiro, desta vez eletrônico: são os sites que agora se encarregam de colocar as pessoas em contato. Um desses sites, o ParPerfeito, anuncia que tem mais de 12 milhões de usuários cadastrados, e que cerca de 10 mil pessoas se cadastram a cada dia.

Mas o método tem seus problemas. Afinal de contas, é um contato à distância, baseado em informações cuja veracidade nem sempre pode ser checada. Surpresas desagradáveis ocorrem, sem falar no medo e na timidez de muitas pessoas. Não é de admirar, portanto, que a passeata do Movimento sem Namorados tenha sido organizada exatamente pelo site ParPerfeito.

Ao fim e ao cabo, nada substitui o contato pessoal, nada. Adão e Eva formaram um casal sem recorrer a site algum, sem depender de comunicação indireta. Ao contrário, quando uma intermediária entrou na vida deles - a serpente - o resultado foi desastroso. Intermediários? Só para fazer a apresentação inicial. Daí em diante, que falem os corações.

A Monika Naumann escreve para comunicar que está sendo formada uma frente contra a degradação ambiental em Porto Alegre, e que vai examinar coisas como os megaprojetos relacionados à Copa de 2014 na Capital - vem um debate interessante aí.

E agradeço também as mensagens de Antonio Augusto, Flavio da Rosa, José Diogo C. da Silva, Viviane, Ricardo Dias, Werner Schumacher, Liete C.Alves, Miriane L. Lucca, Cristiano M. Silveira, Themis Lopes.

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