quinta-feira, 21 de maio de 2009


KENNETH MAXWELL

Com a boca na botija

A CRISE no Parlamento britânico continua. O público se enraivece cada vez mais.

As histórias dos abusos cometidos por parlamentares que exploraram seus cargos para ganho pessoal envolvem um amplo espectro de indivíduos, de todos os partidos.

Com base em documentos que vazaram na forma de arquivos de computador encaminhados ao jornal "Daily Telegraph", as despesas para as quais parlamentares solicitaram reembolso público variavam de tolas a sérias.

Membros do Partido Trabalhista, que está no governo, foram mostrados com a boca na botija.

Uma solicitação típica foi a apresentada por Elliott Morley, ex-ministro do Meio Ambiente, para cobrir despesas com uma hipoteca que ele havia quitado meses antes. Os conservadores não eram menos culpados.

Um deles revelou ter usado dinheiro do contribuinte para limpar o fosso em sua casa de campo, e outro para comprar esterco de cavalo para seus canteiros de flores. Até mesmo membros do Sinn Fein, o grupo republicano irlandês, estavam envolvidos. Solicitaram 500 mil para cobrir despesas, a despeito de se recusarem a assumir suas cadeiras na Câmara dos Comuns.

Cabeças já começaram a rolar. Renúncias colocaram carreiras em risco e arruinaram reputações.

Shahid Malik renunciou como ministro assistente da Justiça depois que surgiram questões quanto aos seus arranjos de locação. Andrew Mackay foi forçado a deixar seu posto como um dos principais assessores da liderança conservadora devido a pedidos de cobertura de despesas para uma segunda casa inexistente.

Mas o estrago já havia sido causado. Michael Martin, presidente da Câmara dos Comuns, é visto como responsável por bloquear a reforma do sistema de despesas e criticado pela raiva com que reagiu ao ser contestado em relação ao dinheiro público recebido para cobrir despesas de sua segunda casa.

"Precisamos começar de novo", foi a reação de Nick Clegg, o líder dos social-democratas. "Precisamos de alguém que lidere um processo completo e radical de reforma".

"Caso Martin tente se manter no posto, a Câmara dos Comuns enfrentará ainda mais turbulência", comentou o "Daily Telegraph" em editorial.

"Caso ele um dia tenha abrigado qualquer respeito pela instituição que tanto prejudicou, deveria partir, e já". O presidente da Câmara dos Comuns pediu desculpas na segunda-feira. Um dia depois, renunciou . É a primeira vez em 314 anos que isso acontece.

"As "histórias do cocho" que vocês publicam a cada dia merecem toda a minha atenção", é como um leitor do "Daily Telegraph" define os acontecimentos.

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

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