quinta-feira, 28 de maio de 2009


KENNETH MAXWELL

Nova Mazagão

EM 1769, SEBASTIÃO José de Carvalho e Melo, mais conhecido por seu título posterior de marquês de Pombal, decidiu abandonar a fortaleza portuguesa de Mazagão, na costa do Marrocos. Foi uma decisão sensata. Havia 120 mil soldados do sultão Sida Mohamad cercando a cidade fortificada de 2.092 habitantes.

Mazagão havia sido fundada em 1513, no ápice da expansão portuguesa. Mas os dias do grande império asiático de Portugal eram há muito coisa do passado. No século 18, os portugueses haviam transferido seu foco ao Brasil.

Quanto a Mazagão, a guarnição e a população foram retiradas. Em 11 de março, os moradores começaram a destruir tudo aquilo que não podiam carregar. Em três dias haviam partido, atravessando o portão da cidade em direção ao mar, onde foram apanhados por barcos que os transportaram até a frota que esperava ao largo.

Mas Mendonça Furtado, o irmão de Sebastião José, não queria que a história terminasse assim. Ele havia servido como governador do Grão-Pará e Maranhão, no Brasil, e, depois de seu retorno a Lisboa, tornou-se ministro da marinha e das colônias ultramarinas.

No Brasil, ele havia demarcado a fronteira amazônica e estabelecido fortalezas em posições importantes, tudo isso como parte do novo acordo de fronteiras assinado com a Espanha sob o Tratado de Madri, em 1750.

Ele tinha um propósito imperial em mente para os antigos moradores de Mazagão. Pretendia enviá-los a Belém e de lá para a margem norte do rio Amazonas, onde fundariam uma "nova" Mazagão. Em 1770, decidiu instalar a cidade no rio Mutuacá, no local anteriormente ocupado por uma missão jesuíta.

Os moradores de Mazagão foram virtualmente mantidos prisioneiros no mosteiro dos Jerônimos, em Portugal, enquanto aguardavam os navios que os transportariam ao Brasil. Quando chegaram a Belém, em 1771, foram mandados em canoas para sua nova cidade. Por volta de 1778, 1,8 mil deles haviam sido transferidos.

Mas a "Nova Mazagão" estava situada em uma várzea. As edificações começaram lentamente a ruir em torno de seus habitantes, a começar pela igreja, em 1779. Em 1783, Lisboa reconheceu o fracasso da experiência e os moradores foram autorizados a partir.

"Uma odisseia trágica" é a descrição que o historiador francês Laurent Vidal, da Universidade de La Rochelle, oferece sobre o acontecido, tanto em seu novo e maravilhoso livro "A Cidade que Atravessou o Atlântico" como em um artigo sobre a história de Mazagão publicado na edição de abril da "Revista de História da Biblioteca Nacional".

KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.

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