sábado, 30 de maio de 2009



31 de maio de 2009
N° 15986 - MOACYR SCLIAR


Os problemas da poligamia

A África do Sul, onde estive há três anos, é, como o Brasil, uma sociedade complexa, multicultural. O presidente eleito, Jacob Zuma, que acabou de assumir, é um exemplo disso. Trata-se de uma personalidade controversa, e as controvérsias a seu respeito não raro envolvem sexo. Quando era vice-presidente, foi muito criticado por ter tido uma relação sexual com uma soropositiva sem usar preservativo, o que o levou a pedir desculpas em público.

Na ocasião, alegou, em sua defesa, que, depois do coito, tomara uma ducha, o que, segundo ele, eliminaria o risco de infecção. Esse tipo de declaração, num país em que 11% da população está infectada pelo HIV, não chega a ser exatamente animador, principalmente quando se considera que o próprio ex-presidente, Thabo Mbeki, pusera em dúvida a etiologia viral da Aids.

Há mais, porém. Jacob Zuma já foi casado quatro vezes e atualmente tem duas esposas (morando em cidades diferentes) mais uma noiva. O que suscita questões: quais dessas senhoras será a primeira-dama? Haverá um triunvirato (ou uma dupla, ao menos) de primeiras-damas? Como serão distribuídas as tarefas entre elas?

Poligamia faz parte da tradição de vários grupos humanos. No Velho Testamento, encontramos a venerável figura de Jacó, que teve duas mulheres e 13 filhos, alguns com as esposas, outros com servas. E o rei Salomão teve 700 esposas e 300 concubinas (essas últimas eram compradas).

Entre os muçulmanos, a prática também não era rara, e daí se originaram os haréns – a palavra vem do árabe “proibido”, porque era vedada a entrada no local a homens estranhos.

O mais famoso harém ficava na Turquia, e era conhecido pelos europeus como “Grande Serralho” (daí vem o título da ópera de Mozart, O Rapto no Serralho). O sultão Abdul Hamid II, que governou na passagem do século 19 para o século 20, tinha, como Salomão, cerca de mil mulheres no harém.

Entre os cristãos, houve uma época em que a Igreja dos Santos dos Últimos Dias, fundada por Joseph Smith, permitiu a poligamia, que, aliás era, no período, permitida pela lei americana. A prática ainda é mantida, de forma clandestina, por grupos dissidentes isolados, não filiados à igreja oficial. Mas provavelmente o campeão da poligamia foi o imperador azteca Montezuma II, que tinha 4 mil mulheres.

A poligamia era (é) antes de mais nada uma questão de poder, de mostrar quem é o macho alfa, aquele que comanda os outros e monopoliza as fêmeas, dentro da luta darwiniana pela existência.

Mas esse poder tem seu preço. Para começar, é duvidoso que o rei Salomão, Montezuma, ou o sultão Abdul Hamid II, identificassem suas mulheres pelo nome, a menos que elas usassem crachá.

Depois, havia a questão das brigas do harém. Além do que, a prática sexual teria de ser intensiva, tipo tempo integral e dedicação exclusiva, sob pena de inspirar dúvidas quanto à potência real, o que sempre é desagradável.

Pensando bem, a monogamia tem suas vantagens. Pelo menos para presidentes: é uma única primeira-dama, e estamos conversados.

Agradeço as mensagens de Marcia Pettenon, Nilo de Lima e Silva Filho, Lilian Pinto, Liete Carmo Alves, Egon Muller (que está escrevendo um livro sobre a saudosa Lygia Averbuck, uma das pessoas que mais impulsionou a literatura no RS), Heldes P.Mayer, Flavia Drago, Nelson O.de Souza, Gustavo Schlottfeldt, Dr.Fernando Luiz Brauner, Piero Costa, Anelise Silveira.

E um nome que condiciona destino, o do mafioso Leonardo Badalamenti, recentemente detido no Brasil. Prisão justa: se o cara só badalasse, tudo bem. Se o cara só mentisse, tudo bem. Mas o Leonardo badala e mente. Aí é demais.

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