sábado, 16 de maio de 2009



OBJETIVIDADE: O INGREDIENTE ESSENCIAL

Tenho apenas um objetivo durante uma seleção de júri: reunir um grupo de pessoas que ouvirão, com a mente aberta, a versão da história apresentada por meu cliente. É fácil ser completamente objetiva em relação a isso, pois não tenho interesse pessoal algum em que qualquer um dos candidatos faça parte ou não do júri.

Eles não são meus amigos, familiares nem mesmo conhecidos. Provavelmente eu nunca mais os verei.

Quando tentei aplicar meus métodos de decifrar as pessoas na minha vida pessoal pela primeira vez, descobri rapidamente que a objetividade, tão fácil no tribunal, era minha grande fraqueza. Na vida real, eu me preocupava muito com o que os outros pensavam de mim.

Sofria para decidir se devia dizer “sim”, “não”, “você tem razão” ou “você não é suficientemente bom”. Para transpor minhas habilidades do tribunal para o mundo pessoal, eu precisava também transferir minha objetividade. Você só pode ver as pessoas acuradamente se enxergá—las objetivamente.

Infelizmente, como regra geral, quanto mais importante for uma decisão em sua vida, mais difícil será permanecer objetivo. É fácil ser objetivo em relação a se uma conhecida casual seria um bom encontro para seu irmão. Se ela for uma colega de trabalho, você terá mais a perder; se ela for sua chefe, ainda mais; se for sua melhor amiga, as chances são ainda piores.

Temos uma tendência a tomar decisões baseados no que será doloroso ou agradável para nós naquele momento. Com demasiada frequência, escolhemos a solução mais fácil, que envolve menos confrontos, porque nossas emoções nos cegam para o contexto geral ou para a realidade a longo prazo.

Se o namorado de uma mulher flerta constantemente com outras mulheres, ela provavelmente o notará. Mas se estiver apaixonada e não quiser admitir para si mesma que os olhos de seu namorado vagueiam — e que o resto dele provavelmente também —, ela pode optar por pensar que seu comportamento é inocente.

Provavelmente ela não seria tão condescendente com o namorado de outra pessoa. Um empresário que tenha problemas com uma nova funcionária pode preferir pensar que os enganos dela acontecem por ser nova no emprego, em vez de admitir que precisa substituí-la. A filha de uma mulher idosa que está sofrendo da doença de Alzheimer pode explicar o comportamento bizarro de sua mãe em vez de encarar a dolorosa verdade.

Sempre que a verdade se mostra ameaçadora, tendemos a colocar tapa-olhos. Há alguns anos, uma amiga confidenciou-me que sua filha adolescente devia estar apaixonada, embora ela soubesse que a garota não estava saindo com ninguém em especial.

Eu quis saber: “Como você pode dizer que ela está apaixonada?”

“Bem as notas dela começaram a piorar, de verdade. Ela parece ter perdido o interesse em tudo, dorme até tarde todos os dias, chega em casa de madrugada sem telefonar para dizer onde está, e parece muito distraída.”

Para mim, esse comportamento gritava “drogas”, não “amor juvenil”. Meu coração ficou apertado enquanto eu sugeria sutilmente essa possibilidade para minha amiga. Ela pensou um pouco e depois a rejeitou. Minha amiga precisou de mais seis meses para conseguir se confrontar com a filha, que naquele momento estava preparada para reconhecer o problema com as drogas e aceitar ajuda.

Fechar os olhos — e as mentes — para coisas que sejam desconfortáveis ou perturbadoras faz parte da natureza humana. Em 1957, Leon Festinger criou a expressão “dissonância cognitiva” para descrever esse fenômeno. Um sintoma de dissonância cognitiva é a recusa de uma pessoa em aceitar o óbvio, como minha amiga fez com sua filha.

Essa é uma forma de pensamento ilusório. A palavra “ilusório” normalmente nos traz à mente a imagem de alguém que perdeu completamente o contato com a realidade e que balbucia coisas sem significado ou mentiras sem nenhuma percepção da verdade.

Mas a maior parte da atividade ilusória acontece nas mentes de pessoas comuns, como você e eu, enquanto tomamos as decisões cotidianas que podem ter um imenso impacto em nossas vidas. É difícil enxergar a verdade, principalmente quando não queremos vê-la.

A maior parte dos lapsos de objetividade acontece por causa de algum grau de dissonância cognitiva ou de pensamento ilusório. Embora seja difícil, podemos superar nossa tendência a ignorar os fatos dos quais não gostamos.

Primeiro, temos de entender o que nos perturba a ponto de estarmos dispostos a ignorar ou a distorcer a realidade em vez de agir sobre ela. Descobri que são quatro os estados mentais que mais frequentemente nos fazem perder a objetividade:
1. Compromisso emocional
2. Carência
3. Medo
4. Defesa

Compromisso emocional: o vínculo que cega

(...) Pode ser muito difícil manter a objetividade quando se está emocionalmente comprometido com um resultado específico. Quanto maior o compromisso emocional, maior a tendência a se comportar irracionalmente. É por isso que os conselheiros normalmente são contra a intimidade sexual até que o respeito mútuo, a confiança e a amizade estejam bem estabelecidos.

Uma vez que o ingrediente poderoso e prazeroso do sexo tenha sido acrescentado a um relacionamento, tenderemos a desconsiderar até mesmo os defeitos básicos até que a paixão diminua, e aí poderemos estar bem adiantados no caminho de um desastre emocional.

Nem sempre é possível evitar decisões quando se está emocionalmente vulnerável, mas, consciente das armadilhas, pode-se desviar de muitas delas. Para começar, tente evitar as situações em que se sinta pressionado na direção de uma resposta específica. Nessas circunstâncias, você perderá a objetividade.

Nem sempre é possível evitar decisões quando se está emocionalmente vulnerável, mas, consciente das armadilhas, pode-se desviar de muitas delas. Para começar, tente evitar as situações em que se sinta pressionado na direção de uma resposta específica.

Nessas circunstâncias, você perderá a objetividade. Como resultado, tomará uma decisão ruim, e depois relutará em reconhecer seu erro, mesmo que ele se torne óbvio. Se entrevistar a filha de um amigo para um emprego, você poderá deixar de lado as deficiências fundamentais dela porque não quer dizer a seu amigo que a filha dele não está à altura.

Se contratar o vizinho como seu contador, ou o companheiro de golfe como seu advogado, você tenderá a subestimar coisas que não aceitaria se não fosse a amizade. Sempre que seus mundos colidem, você traz os compromissos emocionais de uma situação para a outra. Se misturar negócios com prazer, o resultado pode ser bom, mas o mais provável é que seu desejo de que todos sejam felizes e de evitar o confronto faça você enxergar as pessoas equivocadamente.

Outro modo comum pelo qual criamos compromisso emocional é reconhecido como em uma típica instrução de júri: ao iniciar suas deliberações, os jurados
- instruídos a não expressar os sentimentos sobre o caso até que o tenham discutido. Quando as pessoas se comprometem publicamente com um ponto de vista
específico, elas relutam em mudá-lo.

Orgulho, teimosia ou medo de admitir que nos enganamos entram no meio do caminho. Se sua meta é ser objetivo ao avaliar as outras pessoas, não se precipite anunciando a seus amigos, familiares ou colegas de trabalho os sentimentos que tem em relação alguém antes de ter tido tempo para reunir a informação pertinentes e pensar cuidadosamente sobre ela.

Não faça compras quando estiver com fome

Os negociadores têm um ditado: “A pessoa que deseja o acordo acaba conseguindo o pior acordo.” Essa regra se aplica também aos relacionamentos: a pessoa com a necessidade maior provavelmente irá preenchê-la com o senhor ou a senhora Errado(a). Só depois de sentir a pontada de seu erro é que reconhecerá sua decisão pelo que realmente foi — uma concessão.

Começamos a aprender a conceder e somos crianças quando vítimas da atração pela gratificação imediata. Ficamos com a bicicleta arranhada só para não ter de esperar pela troca por uma novinha em folha, porque temos medo de que papai mude de idéia se não agirmos rápido.

Quando somos adolescentes, podemos aceitar o primeiro convite para um encontro com um veterano porque temos medo de que mais ninguém nos convide. Como adultos, continuamos a tomar decisões erradas sobre as pessoas por causa de carência. O exemplo mais comum disso é o inevitavelmente desastroso “relacionamento reatado”.

Mas a carência também impulsiona o empregador que está desesperado por preencher uma vaga e contrata o primeiro candidato aceitável, apenas para voltar novamente a examinar pilhas de currículos dois meses depois. A carência também leva um pai a aceitar para o filho uma escola maternal abaixo do padrão para não precisar faltar mais uma vez ao trabalho.

Minha mãe costumava dizer: “Não faça compras quando estiver com fome.” Bom conselho. Tudo parece tentador quando você está com fome, e você acabará levando para casa coisas que, de fato, não precisa, e algumas coisas realmente ruins para você. O ponto-chave é diminuir o ritmo o suficiente

Sempre que perceber que está reagindo de modo diferente do que faria se tivesse tempo ilimitado, está agindo sob a influência de carências e não estará enxergando as pessoas claramente. Pare e considere alternativas antes de seguir em frente.

(...)
Jo-Ellan Dimitrius

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