quinta-feira, 21 de maio de 2009



A GREVE DOS PÁSSAROS

Palomas é uma réplica do mundo. Um holograma. Tudo o que tem no mundo, tem em Palomas. Tudo o que tem em Palomas, tem no mundo. Bem, quase tudo. Palomas, felizmente, não tem o Nando Reis. Nem a Fernando Young. Se tem, ninguém os conhece.

O resto é igual. Palomas tem os mesmos partidos políticos. E os políticos são os mesmos. Rápidos no gatilho. Lentos na devolução. É um troca-troca sem igual. Fidelidade só em bordel. Os palomenses têm um lema clássico: é dando que se recebe. Mas é recebendo que se enriquece mais rápido.

Na semana passada, por exemplo, descobriu-se em Palomas que o deputado Efraim Moraes, do Demônios, havia empregado 52 funcionários fantasmas. Questionado, o Efraim de Palomas foi mais despachado que o Efraim Moraes de Brasília: — É que não tinha lugar para todo mundo. Então, contratei fantasmas. Eles nunca ocupam espaço físico algum.

Moraes da história: Efraim vai escapar numa boa. Em Brasília, tudo acaba em pizza. Em Palomas, tudo acaba em churrasco. A conta fica sempre por conta do otário. Nós. Outra novidade que sacudiu Palomas no começo desta semana foi mais uma reportagem da revista Olha sobre probleminhas básicos de caixa 2 na campanha que levou ao poder regional os atuais donos do pedaço. Palomas é muito apegada à tradição.

Por lá já se teve transporte de dinheiro em mala (de garupa) e cueca (em ceroulas cabe muita grana). A novidade agora é dinheiro em mochila de academia. Nem todos aprovaram. Segundo a revista Olha, Paulo Feijão teria enviado ao tesoureiro da campanha R$ 25 mil, doados pela Sempala, que não aparecem na prestação de contas. Só pode ter sido uma distração.

Admite-se em Palomas a não contabilização de recursos de campanha. Faz parte. Aceita-se o caixa 2 com a justificativa de que é executado por todos os partidos. Crime praticado por todo mundo, alegam os palomenses, deixa de ser crime. Mas trocar o meio tradicional de transporte do dinheiro não é permitido.

Aí já fere o orgulho local. Para que mochila se temos malas? Faz sentido. Tudo isso, contudo, é pouco diante do mais impressionante fato do ano em Palomas, a greve dos tucanos.

As aves. Sabem aqueles bichos de bico longo? Eles mesmos. Os tucanos cruzaram os bicos na frente da sede do Ibama. Pretendem também recorrer ao Procom e ao Conar, o Conselho de Autorregulamentação Publicitária.

Qual é o problema dos tucanos? Não têm nada para fazer? Viraram arruaceiros do MST? Soltaram as asinhas depois que o coronel Mendes foi para a reserva? A questão é simples: os tucanos não querem mais ter a imagem deles associada a partido político algum.

Alegam, primeiro, que nunca foram consultados sobre isso. Segundo, que jamais receberam royalties. Terceiro, que isso os expõe ao ridículo e ao ódio popular, o que pode levar à extinção da espécie.

O líder dos tucanos (dos pássaros) garantiu que a categoria não quer ser confundida com abutres nem ser acusada de propaganda enganosa. Para os tucanos (as aves), a casa caiu. Cada um que cuide do seu ninho.

juremir@correiodopovo.com.br

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