segunda-feira, 18 de maio de 2009



18 de maio de 2009
N° 15973 - SERGIO FARACO


Sem batismo: o limbo

Em 2007, ao agradecer à RBS e ao Banrisul o Prêmio Fato Literário que me foi concedido, mencionei que, se minha ficção viajara para longe, ao ponto de ser lida no alfabeto cirílico (mais longe do que merecia), a passagem de ida eu creditava ao prestígio da L&PM, aos meus editores Ivan Pinheiro Machado e Paulo de Almeida Lima, e aos seus funcionários.

Não era o caso de arrolar todas as minhas dívidas, mas, se o fosse, teria dito também que aprendi a escrever no Caderno de Sábado do Correio do Povo, editado por P. F. Gastal, e no Suplemento Literário Minas Gerais, fundado por Murilo Rubião: compartilhar o texto impresso com pessoas desconhecidas refinava meu senso crítico.

Esta lembrança não é um reparo tardio. Ao eleger o tema da coluna, eu refletia sobre os jovens escritores de hoje aqui no Sul: no futuro, dificilmente eles poderão citar, como citei, órgãos da imprensa que os ajudaram a crescer.

Em minhas palestras, se tenho como ouvintes pessoas que almejam dedicar-se à literatura, especialmente na ficção, sempre recomendo que publiquem em jornais e deixem o livro para mais tarde, quando puderem errar menos.

É um conselho inoperante: se já não há cadernos literários em nossos jornais, e nos que se assemelham a ficção e poesia são descartadas, onde os jovens vão publicar? Segundo me disseram, é a linha que segue a grande imprensa em todo o mundo. Que seja. No entanto, ainda pergunto: onde os jovens vão publicar?

Tanto quanto sei, recorrem a blogs que, por regra, raramente são lidos, e frequentam oficinas, onde trocam impressões com os colegas e o mestre, mas para apurar a faculdade de ler um texto como se a outrem pertencesse, nada, nem blog nem oficina, nada substitui o jornal e seus proveitos. E a gurizada que tem talento, para evadir-se do limbo, publica livro antes do tempo. É a crisma antes do batismo.

Mas, olha só, eis uma notícia boa.

Para irmanar-se ao Rascunho, de Curitiba, onde há espaço para todos os gêneros literários, renova-se em Belo Horizonte o velho Suplemento Literário Minas Gerais, sob os auspícios da Secretaria Estadual de Cultura, após um percurso em que capengou mais do que andou.

Quem agora o dirige é um dos remanescentes de sua fundação, o escritor Jaime Prado Gouvêa (leia o notável Fichas de Vitrola), e seu nome é uma garantia de que o suplemento há de reviver as gloriosas estações da era Rubião.

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