sábado, 30 de maio de 2009



30 de maio de 2009
N° 15985 - PAULO SANT’ANA | LUIZ ZINI PIRES (interino)


A melhor notícia do novo milênio

Em 24 horas, os gaúchos espicharão o ouvido, quase entupido de informações ruins, em busca da confirmação da melhor notícia do novo milênio. A Fifa, mãe do futebol, acomodada nas Bahamas, estará classificando Porto Alegre como uma das 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014.

Ótimo, comemore, erga uma taça do bom espumante da Serra. Nossa capital nunca mais será a mesma. Pode avançar meio século em quatro anos ou pode encontrar 2014 no seu pique normal, sem progredir 12 centímetros. Estacionar.

O pesadelo da Copa, superior a um gol contra na final, envolve os políticos, que serão responsáveis por investir milhões e escolher obras definitivas de 12 capitais. É medo comum. Eles, na sua maioria, estarão no mesmo estágio ético dos nossos dias? Como será a face do político em 60 meses?

Nós, povo, evoluiremos? O país será outro? Mais civilizado? Pergunte. Eu me pergunto. Afinal, do vereador ao senador, cada político eleito reflete um naco de nós mesmos, da nossa vontade, embora não sejamos obrigados a nos reconhecer em todos, nem nos que escolhemos na íngreme beira da urna. A Copa será muito deles, dos condutores do dinheiro público. Do privado, fico tranquilo.

A Copa não faz milagres. Mas a Copa ajuda a promover pequenas e definitivas mudanças em algumas cidades dispostas a mudar, lideradas por políticos competentes, gestores qualificados, empresários com visão de futuro. A Alemanha da Copa de 2006 é perto, faz parte do nosso sangue gaúcho (do meu pelo menos), e está carregada de bons e maus exemplos.

Podemos beber do melhor. Não vamos deixar que a África do Sul seja nossa referência em organização, segurança e gestão. Neste caso, prefiro retrovisor de Primeiro Mundo. A África que nos forneça exemplo em alegria e amor ao futebol, de que precisamos menos.

Uma Copa se faz com dinheiro público (que medo!) e privado. O primeiro se destina a infraestrutura, ruas, metrô, rodoviárias, aeroportos. O segundo constrói e reforma estádios, ergue novos hotéis, planta bares e restaurantes, trata dos shoppings.

O Estado patrocina a nova via que vai facilitar a chegada e saída dos fãs do estádio, por exemplo. O dono do complexo esportivo cuida da própria casa com o seu próprio dinheiro. Não é comum em Mundiais dinheiro de fontes públicas e privadas se unirem e erguerem o mesmo projeto. Um não deve tocar no outro, mas podem se complementar. Onde brota um novo hotel, a luz aparece, a segurança nasce.

Os dois grandes presentes que a Fifa deixa aos países que abrigam uma Copa são uma sequência de novos e reformados estádios, acomodação para mais três décadas, no mínimo, e melhorias na infraestrutura das cidades, facilitando a vida de milhões. Há outros menores e que ficaram diluídos no tempo, uma vez que o país entra na moda e atrai turistas com todos os tipos de bolsos e sotaques.

O Mundial convoca o planeta para ocupar um país durante 30 dias. É um evento espetacularmente familiar, de gente que atravessa dois continentes para estar com a sua seleção, mas também para consumir a cultura local, depositar alguns milhares de dólares em diferentes cidades. São 30 dias de festas, de celebração, de pura alegria.

A Copa do Mundo, poucos sabem, é também uma tarefa para voluntários estrangeiros e locais. É minha, é sua, é do seu filho que domina o espanhol, da sua filha que fala inglês. É de quem deseja ser motorista, guia, gandula ou tradutor no aeroporto.

Gaúchos que precisarão trabalhar de graça, por um almoço, dois lanches diários, apenas para dizer que fizeram parte da Copa Porto Alegre. A Copa é perfeita para saber em que país vivemos, quem é quem e com quem podemos contar. É evento planetário. O mundo vai ver, ouvir, falar, comentar, julgar.

Homem de muitas Copas, Pablo, dono do espaço e de muitas taças, está doente, mas volta na semana que vem.

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