sábado, 16 de maio de 2009



17 de maio de 2009
N° 15972 - MOACYR SCLIAR


A noiva fujona

O casamento estava marcado não para maio, o mês das noivas, mas para o último dia de abril de 2005. Foi isto que deu azar? Talvez. O certo é que quatro dias antes da grande data, Jennifer Carol Wilbanks, 22 anos, que iria unir-se em matrimônio com John Mason, desapareceu da cidade de Duluth, Georgia.

A notícia, bombasticamente veiculada, provocou sensação nos Estados Unidos, e chegou a levantar-se a suspeita de que a jovem teria sido assassinada pelo noivo. No dia 29, contudo, Jennifer telefonou do Novo México dizendo que tinha sido sequestrada por um hispânico (nos Estados Unidos, hispânicos têm costas largas).

Era mentira. Jennifer tinha simplesmente fugido, o que deixou furiosos os policiais que em vão a tinham procurado. Ela foi multada e condenada a prestar serviços comunitários.

John Mason casou com outra mulher. Mas nem tudo foi prejuízo, porque Jennifer vendeu os direitos de sua história por meio milhão de dólares. Um molho foi produzido com o nome dela (“Jennifer’s Sauce”), e, não por coincidência, um episódio numa série de tevê inglesa recebeu o nome de The Runaway Bride, “A noiva fujona”.

Por que teria mesmo Jennifer fugido? Houve muita discussão a respeito, mas um coisa se pode dizer: as noivas não são apenas pessoas que aguardam alegres um esperado casamento.

O noivado, com todas suas ansiosas expectativas, é uma espécie de terra de ninguém, um limbo que separa a infância da vida adulta, a virgindade (mesmo que teórica) do sexo praticado na cama de casal. É em nome dessa virgindade, dessa pureza, que as noivas devem vestir branco.

Ao som de uma música majestosa, ela adentra o templo ou o salão de festas. E ali, diante do oficiante da cerimônia, ela se transformará na princesa dos contos de fadas que encontra enfim o seu amado. Depois vem a valsa, e o brinde, e os cumprimentos: uma noite inesquecível, que transforma a moça em verdadeira rainha.

As expectativas são altas, portanto. Os temores também, o que explica as superstições que envolvem o noivado e o casamento: o noivo nunca deve ver a noiva com seu vestido antes da cerimônia, a noiva não deve usar pérolas, a noiva deve vestir alguma coisa velha (homenagem ao passado), alguma coisa azul (a cor do céu), alguma coisa emprestada (o apoio que vem dos outros).

Mas a pergunta se impõe: será que sentir-se depositária de tantas expectativas não causa, para muitas noivas, um insuportável grau de ansiedade? Não teria sido esta a causa da fuga de Jennifer (lembrando que noivos também fogem)?

Na ficção, não raro a noiva é uma figura triste, dramática mesmo. Na ópera A Noiva Vendida, de Bedrich Smetana, a noiva está sendo obrigada a casar contra a vontade. Vestido de Noiva, a clássica de Nelson Rodrigues, é uma história sombria, envolvendo até assassinato. A propósito, há um clássico filme francês de François Truffaut, com Jeanne Moreau, que se chama A Noiva Estava de Preto, e que também fala em crimes. É o reflexo, na arte, de ocultos temores e fantasias.

Temores e fantasias à parte, a verdade é que moças e rapazes casam, a verdade é que a festa de casamento alegra as pessoas, e a alegria continua sendo o grande antídoto contra o medo. Não temam, queridas noivas. Estamos aqui torcendo por vocês.

Agradeço as mensagens de Rafael da Fonseca, Nadia A.M.Polidoro, Anelise Silveira, Clara Stein, Monika Naumann, Luiz Paulo Faccioli, que preside a Associação Gaúcha de Escritores, Fernando Batalha, Isak e Grete Bejzman, Nelson Kanter (de Chicago – ZH chega longe), Samuel Breitman, Raquel Kahan, Denise Maria D.Gewehr, Oscar Petersen.

E o José Altair Rodrigues viu em SC um anúncio com um nome que condiciona destino: um cirurgião plástico chamado Dr. Rafael Tirapelle. Realmente adequado, José Altair. Se fosse o Dr.Tira Couro, aí teríamos um problema.

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