sexta-feira, 22 de maio de 2009



Jaime Cimenti
22/5/2009


Contestado, catolicismo caboclo e catolicismo ortodoxo

A Guerra do Contestado, que ocorreu de 1912 a 1916, envolveu nada menos do que vinte mil sertanejos e se constituiu num dos episódios mais marcantes e complexos da história brasileira. Pela primeira vez na América Latina foram utilizados aviões para operações militares.

Depois de quinze anos de longas pesquisas, o escritor e editor Walmor Santos, nascido em Santa Catarina, em 1950, e há décadas residindo em Porto Alegre, encarou o desafio de redigir um romance extenso sobre a Guerra do Contestado. O primeiro volume de Contestado - a guerra dos equívocos tem por título O poder da fé e enfoca o aspecto religioso/messiânico no equivocado conflito entre o catolicismo caboclo e o ortodoxo.

Walmor Santos já escreveu mais de dez obras para os públicos infantil, juvenil e adulto, tem uma editora e ainda encontra tempo para lançar novos escritores e levá-los às escolas. Ele já obteve vários prêmios e sua novela A noite de todas as noites foi indicada para o conceituado Prêmio Jabuti. Em Contestado, o escritor testemunha sua fascinação, como catarinense e ficcionista, pelo fato histórico e procura a história da História.

Acertadamente, procura não enveredar pelo caminho fácil e enganoso do maniqueísmo e prefere visualizar os humanos em seus aspectos de duplicidade barroca, ora anjos, ora demônios. No romance, a narrativa toma por base a figura histórica de frei Rogério Neuhaus e a figura ficcional de Marcolino, um menino do mato dividido entre a pureza de São Francisco e a sedução carnal enfeitiçadora da índia caingangue Mariana.

Na introdução, Victor Cunha, com propriedade, escreveu: "O livro é uma busca de soluções técnicas e de linguagem, ao ressaltar o vigor da empatia resultante da harmonia entre o significado da história do Contestado e seu significante. Entre o catolicismo ortodoxo e o catolicismo caboclo, o escritor se pergunta quem dessas partes litigiosas esteve mais perto dos (des)caminhos de Deus.

Não é questão fácil. Mesclando as visões religiosas barroca e realista, ele nos apresenta possibilidades novas para o entendimento daqueles complexos conflitos.

Conflitos envolvendo guerra inútil, desencadeada por dois estados que sequer combateram entre si, conflitos que envolveram milhares de pobres, misticismo e crendices populares e interesses vários. Não é pouca coisa, e o desafio foi bem enfrentado por Walmor Santos. 266 páginas, Editora Record, telefone 21-2585-2000.

Nenhum comentário: