
Os muitos elementos da "química" Lula-Trump
Não são apenas as longas reuniões entre chefes de Estado que exigem longa preparação. Até a súbita "química" entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, precisou de uma prévia combinação de elementos que envolveu vários personagens além dos irmãos Batista, Wesley e Joesley, sócios da J&F, dona da JBS.
Os preparativos para o encontro casual passaram pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, e o do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, também vice-presidente. Vieira chegou a ter reunião secreta com representante do Departamento de Estado (equivalente ao MRE nos EUA). Alckmin, por sua vez, teve conversas mais produtivas com Jamieson Greer, titular do Representante de Comércio dos EUA (USTR na sigla em inglês). Integrantes de setores afetados pelo tarifaço viram oportunidade de esclarecer a real situação das trocas bilaterais e até o verdadeiro clima político.
Brasil e Índia, casos incomparáveis
Trump impôs a maior alíquota do mundo - só equivalente à da Índia - a um país que dá aos americanos um superávit de US$ 30 bilhões, conforme dados do próprio USTR, entre produtos e serviços. Enquanto isso, os EUA enfrentam déficit de US$ 45,8 bilhões com a Índia.
Não há comparação possível entre os dois países, embora o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, faça paralelos entre os campeões mundiais de tarifa dizendo que ambos colocam os americanos em "desvantagem". A tentativa de integrantes do governo e empresários é evidenciar esse abismo entre Brasil e Índia, que, para efeito de tarifaço, são tratados de forma igual.
Isso serviu para gerar a "química", mas ainda é incerto se será suficiente para provocar efeitos práticos no comércio. Até por isso o envolvimento de empresários é necessário: Trump não negocia só como chefe de Estado, também como homem de negócios. Seus acordos costumam embutir a necessidade de aportes do país ou bloco afetado, como ocorreu com a União Europeia. Nesse ponto, o aceno já feito da Embraer de investir US$ 500 milhões na Flórida é um trunfo. _
O risco de paralisação dos serviços federais nos EUA fez o mercado andar de lado ontem. O dólar oscilou 0,02% para cima e fechou em R$ 5,322. A bolsa variou 0,1% para baixo, a 146,1 mil pontos. A questão é a duração do shutdown.
De volta à crise
Na semana passada, só o apoio verbal do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao colega da Argentina, Javier Milei, foi suficiente para acalmar o mercado. Agora, o modo é "pagar para ver". Ontem, o dólar voltou ao patamar de 1,4 mil pesos, trazendo a crise de volta.
A promessa de Trump é só liberar swap cambial (troca de moedas) de US$ 20 bilhões depois da eleição parlamentar de 26 de outubro. Falta muito. Até para assegurar o resultado, Milei tenta um "adiantamento" para reduzir o risco de disparada do dólar até o pleito.
Outra medida para enfrentar a crise cambial, a suspensão da cobrança de impostos sobre exportações agrícolas (retenciones) está perto do limite. A regra previa o fim da isenção até 31 de outubro ou até o limite de entrada de US$ 7 bilhões. Nas contas do mercado, falta entrar cerca de US$ 2,7 bilhões. Também há dúvida se US$ 20 bilhões bastam. As estimativas de vencimentos da dívida argentina em 2026 e 2027 chegam a US$ 37 bilhões. _
Reforço na rota PoA-Buenos Aires
A partir de 5 de abril de 2026, Porto Alegre passará a ter opção de voo direto para Buenos Aires aos domingos. A conexão da Aerolíneas Argentinas vai sair do Salgado Filho às 21h5min para chegar ao Aeroparque (perto do centro da capital argentina) às 23h. A volta sai às 18h30min e chega às 20h10min.
Em pesquisa, a coluna encontrou passagens de ida e volta por cerca de R$ 1,3 mil.
Desde a reativação da rota, depois da enchente de maio de 2024, havia quatro frequências semanais. _
Alívio com tarifa de móvel e madeira
Diante da ameaça, o anúncio oficial trouxe até certo alívio. Dois setores com forte atuação no RS terão novas tarifas para entrar nos EUA. A alíquota foi menor do que prevista, e o prazo, maior: só a partir do dia 14.
Alguns produtos de madeira serão taxados em 10%, enquanto armários de cozinha e de banheiro e móveis estofados, em 25%. Antes, a expectativa era de que seriam impostas tarifas de 50% sobre armários de cozinha e de banheiro, por exemplo, mas esse nível só será atingido se não houver acordo até 1º de janeiro de 2026.
O decreto de Trump enquadra as novas taxas na seção 232 do Ato de Expansão do Comércio de 1962. As alíquotas não se somam ao tarifaço de 50% já enfrentado por produtos como cerca de madeira, conforme Leonardo de Zorzi, presidente do Sindimadeira- RS. Ele avalia que 10% ainda permite ao produto nacional competir com o americano. _
GPS DA ECONOMIA
Nenhum comentário:
Postar um comentário