
Respostas capitais
Rachel de Sá
Estrategista de investimentos da XP, mestre em economia política internacional pela London School of Economics
"Pela primeira vez em dois anos, revisamos o PIB para baixo"
Rachel de Sá esteve em Porto Alegre na quinta-feira para falar com investidores. Nesta entrevista, avalia que, como resultado do choque monetário, os sinais de desaceleração apareceram "um pouco antes e um pouco mais fortes" do que o esperado, mas ainda não alteram a previsão de início do corte de juro no Brasil. Os "ruídos" com os EUA mantêm a tensão. E amanhã começa o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
? Como a megaoperação que teve como alvo a Faria Lima bateu no setor financeiro?
É um ponto em que não vou conseguir te ajudar.
Antes, já se falava em "risco PCC" em investimentos. É algo presente?
Nunca tinha ouvido falar, vou ser bem honesta. Não é algo que, por enquanto, esteja no radar em termos de impacto no mercado.
Os efeitos do choque monetário estão aparecendo?
Começamos a ver efeitos, mas não temos cenário de recessão ou queda abrupta do PIB. O objetivo da política monetária é controlar a inflação, e uma das ferramentas é o juro. Não é que o economista fique feliz quando desemprego sobe. É o que se espera para evitar doença muito pior, inflação alta. Há muitos trimestres, só revisávamos a projeção do PIB para cima. No mês passado, pela primeira vez em uns dois anos, revisamos para baixo, de 2,5% para 2,2% de crescimento. O freio está chegando.
Para reduzir, veio antes do esperado ou mais forte?
No setor primário, houve crescimento muito forte no primeiro trimestre, mas, no segundo semestre, esperamos redução substancial na velocidade. Os sinais vieram um pouco antes e um pouco mais fortes do que se esperava. A economia global desacelera, e o BC vai conseguir tirar o pé do freio. A nossa projeção é de que a Selic comece a cair em janeiro do ano que vem.
Ainda aposta da minoria do mercado, a possibilidade de corte neste ano tem crescido?
Existe chance de acontecer em dezembro, mas não é nosso cenário-base. O DXY (indicador que mede o dólar frente às principais moedas) está enfraquecendo. Nossa perspectiva é de que se mantenha estável. Agora tem instabilidade institucional no Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), com Trump querendo demitir uma diretora. E dólar é muito importante para política monetária. Temos um estudo que mostra que 40% da cesta de bens e serviços do IPCA tem impacto do dólar e 20% tem impacto muito forte.
Por que não deve ocorrer?
Porque há ruído desde o escalonamento das tensões entre EUA e Brasil, por mais que o impacto macro seja muito pequeno para o Brasil. E ruído é precificado nos ativos. Em resumo, para antecipar o corte, a inflação não pode dar repique, a atividade tem de cair mais forte e o real tem de se manter relativamente apreciado. O Fed indicando novo ciclo de baixa contribui.
O IBGE vai divulgar o PIB nacional do segundo trimestre amanhã. O que esperar?
Estamos prevendo alta de 0,3%. Quando se compara com o primeiro trimestre, que teve alta de 1,4% puxada pelo agro, parece que vai desacelerar muito, mas ainda vai aparecer crescimento, mas com os primeiros sinais de desaceleração, principalmente no consumo voltado ao crédito. Só prevemos queda para o PIB do quarto trimestre, de 0,1%. E outro ponto importante é a possível queda de Formação Bruta de Capital Fixo, de investimento, pelo aperto monetário.
Enquanto isso, a bolsa ronda recorde. Como explicar?
No primeiro semestre, vimos a bolsa ser muito beneficiada pelo fluxo estrangeiro. Com o vaivém da administração Trump, países desenvolvidos e emergentes se beneficiaram, e o Brasil era visto, na primeira metade do ano, como ganhador. Um país emergente, muito fechado em termos de comércio. Em 99% do tempo, é ruim sermos um país fechado, mas, em uma briga de tarifas, não somos muito impactados, porque não dependemos muito do comércio internacional.
Mas no segundo semestre, veio a elevação de tarifas.
Calculamos que o impacto no PIB seria de 0,2 ponto percentual. Depois que vieram as isenções, 0,15. É pequeno, só que o ruído fala alto. Veio a Lei Magnitsky, não se sabe até agora se vai ter ou não um tipo de sanção contra bancos. Temos visto uma reversão do fluxo estrangeiro. No segundo trimestre, os resultados das grandes empresas foram muito bons, grande parte trouxe números acima do esperado.
O que o mercado precifica para o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro?
Como a maior probabilidade é de que haja condenação, sem juízo de valor, está no preço. Qualquer cenário diferente pode elevar a volatilidade. O que pode não estar no preço são derivadas. Se começar a bater no investimento externo direto, dinheiro que vem para fábrica, é mais preocupante. Os EUA são a nossa principal fonte de investimento externo direto. O ruído pode começar a bater em questões mais estruturais. _GPS DA ECONOMIA
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