
A cadeira vazia de Bolsonaro. É mais fácil condenar uma cadeira vazia. Jair Bolsonaro erra em não se fazer presente no julgamento, ainda que sustente a tese de perseguição, ainda que argumente que se encontra debilitado, em decorrência de um quadro de esofagite e gastrite.
O Supremo Tribunal Federal (STF) deu início, na manhã de terça-feira, à sessão que pode colocar atrás das grades Bolsonaro e outros sete réus no inquérito que apura a tentativa de golpe de Estado no país. O processo irá se estender até o dia 12 de setembro. De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente é acusado de comandar a "organização criminosa".
Se Jair Bolsonaro se considera inocente, deveria lutar pela sua liberdade. Deveria provar, ponto por ponto, que não é o mentor da tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, com dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e com prejuízo significativo para a vítima; e da deterioração de patrimônio tombado e dos planos de atentado tendo como alvos o presidente eleito, o vice e o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Não é temerário permanecer em casa se lamentando, choramingando ou assistindo pela televisão ao seu previsível confinamento, ladeado da família?
Poderia se valer, inclusive, da autoridade física do constrangimento, do olhar provocante, das caretas. Ou, pelo menos, exibir sua postura militar, de combatente que não se acovarda do front, de quem se formou na Academia Militar das Agulhas Negras.
O discurso da honra é a base moral com o seu eleitorado. Um dos seus bordões diante do coro de correligionários é o orgulho de ser "imbrochável". É esse o representante da oposição, que não chama a responsabilidade pelo nome nem assume o protagonismo das suas crenças? Que foge do confronto nos momentos difíceis? Por quê?
Não é na tempestade que se conhece o brio do capitão? Se acha que foi desrespeitado em seu direito de defesa, que use a coragem, que demonstre liderança, que proteja seu capital político e se empenhe para suspender sua cassação e se habilitar a se candidatar novamente.
Não adianta a resistência vir de fora para dentro, da Casa Branca, das articulações de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, para favorecer a taxação e as retaliações diplomáticas que apenas prejudicam as empresas e os trabalhadores. Qualquer interferência dos Estados Unidos é ferir a soberania nacional e insistir com um segundo golpe.
Durante sua gestão, quando estava no poder, Jair Bolsonaro abusou da sua lábia incontinente e folclórica. Sempre realizou pronunciamentos desafiadores, inconsequentes, debochados, irônicos. Agora se mostra conformado, calado, abatido, sem reação alguma.
A passividade aumenta a culpa. A ausência revela desinteresse sobre o destino da dosimetria da pena.
Tem à sua disposição um palanque com 500 jornalistas credenciados do mundo inteiro. Tem uma tribuna para contrariar as versões de seus assessores ou contestar a delação premiada. Mas o isolamento cabisbaixo e apavorado é o único exemplo que vem oferecendo: a abstenção de si mesmo. _
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